segunda-feira, 30 de julho de 2012

Na hora certa

Boa tarde!

De volta a realidade...
O fim de semana foi muito bom, passamos três dias grudadinhos e conversamos bastante.
Cheguei por volta das 16h de sexta-feira na clínica. Foi ótimo revê-lo.
Fomos direto para casa, e a mãe dele esperava por nós.
Eu estava calma e sem medos de que algo desse errado. O sentimento de "sempre alerta" não me acompanhou.
A sensação de que ele poderia estar com vontade de usar, ou armando algo para fazer de madrugada, ou ainda tentando me manipular nem passou perto de mim.
Graças a Deus.

Ele conversou com a irmã por telefone, assistimos TV, formos dar uma volta rápida numa feirinha, enfim...
Ele ligou para o irmão mais novo (por parte de pai) e disse que o amava muito, desculpou-se pelas "besteiras" que fez ultimamente, e disse que quer passar mais tempo com ele, o irmão retribuiu as palavras. Meu bem conversava com ele andando de um lado para o outro no quarto, e mal conseguiu terminar o assunto de tanta emoção. Ele chorou bastante e me abraçou. Disse que quer muito que o irmão vá assistir sua alta.

Ele também sempre se emociona ao falar do sobrinho, diz que nunca foi exemplo para o menino, e que quer muito reparar todo o mal que causou. Que sabe que o garoto sempre acreditou nele, mas que ele nunca conseguiu ser um bom tio.

Falamos de muitas coisas. Ele contou de como se sente em relação a algumas situações, algumas culpas. Como está aprendendo a lidar com isso sem desejar fugir da realidade e responsabilidades.
Ele não ficou desconcertado ao voltar para casa, o mesmo ambiente onde ele usava drogas, mas preferimos dormir em outro quarto, para evitar recordações ruins.

Meu amor costuma ter muitos pesadelos durante o sono. Na primeira noite, ele acordou de madrugada muito agitado e nervoso, e demorei um pouco a acalmá-lo. E logo ao amanhecer, ele voltou a sonhar. Estava chorando muito, nervoso, e foi ainda mais difícil conseguir mostrar-lhe que era só um sonho. Mas dessa vez não foi um pesadelo, ele estava sonhando com o irmão e se emocionou.

Falamos, mais uma vez, de nossa vida a dois. Disse a ele que tenho medo de que ele apenas pense que deseja isso, mas que, no fundo, ainda hajam reservas. Ele conseguiu me tirar qualquer insegurança em relação a essas coisas.
Ele contou sobre a dor que causou à sua ex-companheira, que não sabe como será capaz de reparar isso, e que não quer mais cometer os mesmos erros.

Conversamos bastante sobre essas reparações e que elas acontecerão na hora certa, sem pressa.
Mas ele estava aflito quanto a uma pessoa. Uma antiga cliente, uma senhora muito boa e que o ama demais. Ele chegou a procurá-la, bêbado, pedindo ajuda. Ela o acolheu.
Fomos até a casa dela no domingo. Ela ficou muito feliz ao vê-lo e o abraçou demais. Ele sorria e agradecia em uma frase, e chorava e abraçava em outra. Foi muito bonito!

Meu amado está ciente das provações que virão, das situações dignas de levá-lo a cair em tentações, e das armadilhas em que pode se colocar. Isso é bom.
Ele fala que quer sempre ter essa relação de diálogo que conquistamos, e que isso, certamente, vai ajudá-lo a se livrar das dificuldades.

Deixei-o na clínica por volta das 19h de domingo.
Semana que vem nos veremos novamente.

Uma boa semana a todos e fiquem com Deus!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Hoje!

Sexta-feira, 27 de julho de 2012.
128 dias sem as drogas entre nós. Sem aquele fantasma, sem as tormentas.

Eventualmente sonho com ele usando, é horrível.
Mas na noite de quarta-feira tive um sonho lindo com a gente, com o tratamento dele. Eu chegava na clínica para buscá-lo e havia muita gente junto, numa espécie de festa para ele e para mim, como uma surpresa.
Alguns seguravam flores, outros cartazes, mas não me recordo o que estava escrito.
Estavam numa ladeira, com um gramado bem verde. Meu amor era um dos primeiros, ele sorria de maneira muito feliz e vinha em minha direção me falar algo...
Porém...
...
...
O sonho foi interrompido, minha cachorrinha começou a arranhar a porta querendo entrar no quarto! Não acreditei! rsrsrs
...
Eu nunca havia tido bons sonhos com ele, esse foi o primeiro.
...

São tantas mudanças que estão acontecendo ao mesmo tempo que preciso tentar não sair do rumo.
Ontem nos falamos por telefone bem rapidinho. Essa última semana eu não estou me aguentando de tanta saudade.
Ele está ansioso, e eu também. Parecemos dois adolescentes em início de namoro. Se bem, que na verdade, estamos sim em início de namoro... Afinal, começamos no dia 12/6/12!


Hoje o dia está sendo bem corrido.
Acabei não indo ao médico, cancelei a consulta...
Os acertos no apartamento, previstos para iniciarem hoje, não começaram.
Quero deixar tudo com uma carinha bem aconchegante, mas tá difícil iniciar...
Estou pensando em organizar um chá de casa nova com minhas amigas. Estou muito animada.
E, nesse instante, estou saindo de casa para encontrar com meu amor na clínica, irmos para casa dele e  passarmos um fim de semana bem grudadinhos e juntinhos!
Infelizmente a irmã dele não poderá vir, houve um imprevisto. Mas não faltará oportunidade, se Deus quiser!
(E Ele quer!)


Meu amor segue limpo, com planos, esperanças e vontades.
Estamos felizes.
Meus pés ainda permanecem no chão e meu coração não está nada aflito. Diferentemente de quando ele saiu da fazenda, ano passado.
Passei meses enganando a todos, fingindo que eu estava feliz, que não tinha medo, que ele estava bem, que não usava mais nada, e blá-blá-blá.
Acho que é por isso que meu corpo parou de tremer, pois parei de mentir.
Eu sempre odiei mentiras!
Às vezes me pergunto se eu realmente conseguia enganar alguém, se não havia desconfiança de que eu não estava bem, que ele não estava bem.

Todas as quartas-feiras, às 22h, na TV Canção Nova, é exibido o programa Direção Espiritual, apresentado pelo Padre Fábio de Melo. Um homem extremamente sábio em absolutamente tudo que diz.
Vale a pena assistir. (Reprise aos sábados, às 20h). Ele consegue falar de fé e de Deus sem misturar com religião, e por isso tem uma grande aceitação entre os evangélicos e os não religiosos também.
No programa dessa semana, ele falou em relacionamentos, em traições, em recomeços, em amor. Falou de forma tão linda. Pretendo revê-lo amanhã junto com meu querido.
Se você que está lendo, tiver a oportunidade, assista também, tenho certeza de que irá gostar.

Eu agradeço muito a Deus por não ter deixado de crer.
Todas as circunstâncias me faziam seguir o sentido de sair fora dessa relação, afinal, não seria tão difícil, pois não somos casados e nem temos filhos.
Mas alguma coisa me prendia. Minha fé nessa história sempre foi muito forte.
Tive respostas claras referentes à vontade de Deus para mim.
Algumas vezes, me vinham palavras que eu chegava a me assustar, de tão diretas.
É claro que, em muitos momentos, me senti fraca. Olhava para mim mesma e me perguntava se eu não poderia estar equivocada. Cheguei e me abalar emocionalmente, a ficar triste com Deus, a duvidar momentaneamente da minha fé, da minha crença.

Um dia, numa dessas noites, eu já cansada, sem forças e chorando muito, dobrei meus joelhos no chão e fui orar. Implorei a Deus que me dissesse o que fazer. Que se fosse para eu deixá-lo, que retirasse as vendas de meus olhos e me mostrasse claramente. Eu estava esgotada e com medo.
Permanecei assim por cerca de uns 30 minutos.
Quando acabei liguei a TV para tentar dormir, e diante de mim aparece na tela o Monsenhor Jonas Abib dizendo:
"Às vezes Deus colocou em sua vida um homem muito difícil, cheio de vícios, complicado... E você se pergunta se Deus quer que você deixe esse homem. Deus não quer isso. Ele quer que você ajude a edificar a vida desse homem, que você seja instrumento de libertação na vida dele...
Um açougueiro, quando sua faca está cega, não a joga fora e compra outra. Ele apenas vai amolar a faca para continuar com ela. Deus não quer que você jogue sua faca fora."

Meu pensamento inicial foi: "Não é possível que isso é para mim!"
E talvez você não acredite também. Talvez ache que foi só uma coincidência...
Mas eu não acredito em coincidências, eu acredito em providências...
E Deus providenciou TUDO para a gente.
Essa foi apenas uma das respostas que me surgiram.

Talvez você, que passe por algo parecido, e também tenha muita fé, pense: "Mas porque comigo as coisas não melhoram?"
Acredite, é porque não depende de VOCÊ!

Hoje eu vejo que a vontade de Deus é que a gente fique junto, mas enquanto meu amado não se entregou de verdade, não deu certo, e nem daria nunca.
Deus nos deixa livres para escolhermos. E ele escolhia a droga!
Só quando consegui entender isso é que vi que eu não estava enganada quando achava que nossa história era sagrada, mas o fato de não estar dando certo, não era culpa Dele.

Muita paz a todos nós, sempre.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Rotinas......

Ele estará em casa esse final de semana...
Começa a reinserção. Estou tão feliz...
A irmã dele, provavelmente, estará aqui também, e será mais um momento em família.
Estou ansiosa, mas ainda não sei a que horas poderei encontrá-lo, por causa da obra do apartamento e de uma consulta médica. Pretendo passar na clínica e pegá-lo para irmos juntos para casa. Tomara que dê certo!

É o recomeço da vida. É o início do aprendizado.
Viver em família, rotina, coisas simples, arrumar a cama ao acordar, comprar jornal, caminhar na praia, tomar água de coco, sair para comer pizza, pagar contas, ir ao cinema, ao supermercado...
São as flores começando a nascer...

Aliás, a ida ao supermercado é uma coisa que ele sempre comentava, mesmo antes de assumir o tratamento.
Depois de uma conversa sobre sua adicção ou de uma recaída, quando fazíamos as pazes, vinha a frase:

"Eu sonho com o dia em que vamos ao supermercado fazer compras juntos. Você comprando suas coisas saudáveis e eu comprando minhas comidas gordurosas!"

Coisas que parecem banais para muitos, mas que para ele poderão ser verdadeiros momentos de alegria.
Tipo aquela pessoa que cresceu vendo o mar apenas por fotografias de revistas e de repente tem a chance de vislumbrar e sentir toda aquela imensidão diante de seus próprios olhos...

É o início do contato com o mundo real.
Ele está com 35 anos, e mais da metade de sua vida foi em companhia das drogas, de todos os tipos que você puder imaginar. Um recomeço não é nada fácil.
Lembro-me que o terapeuta disse que o DQ precisa aprender como é a vida sem as drogas, pois ele não sabe viver sem ela.
Ele fala, com bastante frequência, que quer uma vida simples. Quer aprender a ser um bom filho, um bom tio, um bom irmão, um bom companheiro e, futuramente, um bom pai. Ele nunca teve rotinas em sua vida, nunca soube o que é isso, mas agora está a espera dela.
Eu, particularmente, gosto de rotinas. Acho que elas não precisam ser monótonas. Existem formas de fazer com que a rotina seja surpreendentemente gostosa a cada dia.

Às vezes me pego pensando em nossa rotina, e sinto-me cada dia mais feliz por perceber que  posso voltar a pensar nessa rotina a dois. Mas tenho cautela, claro. Quando percebo que meus pensamentos estão fluindo demais, retorno meus pés para o chão rapidinho, porque minha imaginação é fértil demais, não posso dar trela para ela, senão ela vai longe.
Meu amor é enfático ao dizer que rendeu-se a nós dois e que quer ser feliz. Tem momentos que a imaginação dele também resolve ir longe, e eu tenho tentado contornar isso.
Tenhamos calma, meu amor!

Nossa relação é deliciosa, nosso único (e gigantesco) problema é a droga.
Tirando este ponto, não brigamos por nada, nem pelo lado da cama ou pelo controle remoto. A gente se entende bem, se diverte, se valoriza, se ama.
É claro que, em função de sua doença, essa cumplicidade foi se perdendo, pois a droga passou a ser a prioridade dele. E isso foi uma das coisas que mais me trouxe dor.


No momento, estamos bem, muito seguros e centrados. Sendo assim, a nossa rotina tem tudo para ser perfeita.

Vai embora o medo, e chega a fé.


No dia que fiz sua internação, estávamos rompidos e eu não tinha a menor intenção de voltar a me relacionar com ele se não houvesse uma mudança notável de postura. E ele, cheio de razão e arrogância, afirmou que ficaria ali por 3 meses, só para conseguir "ficar bem", pois depois desse prazo ele daria conta de ficar limpo por si. Sua vontade já bastava...
Doce ilusão!
Eu só voltei a tocar nesse assunto quando estava chegando a época de completar esses 3 meses.
Mas eu já havia notado sinais sutis de mudança da sua fala, ou seja, esse prazo, graças a Deus, durou pouquíssimo. E hoje ele diz que só sai de lá quando estiver pronto.
Na primavera... Claro!


Meu amado desistiu de tentar fazer as coisas do seu jeito. Ele percebeu que esse seu jeito, que ele tanto defendeu, por tanto tempo, jamais daria certo. Ao contrário, só o levou para um poço cada vez mais fundo.
Por exemplo, ele acreditava cegamente que poderia parar de usar as drogas ilícitas, mas continuar bebendo, que não haveria problema algum nisso.
Mais uma doce ilusão!
(Como se a bebida não fosse um tipo de droga também)

A mudança de postura já é notável, aos meus olhos, e aos olhos de quem estiver disposto a ver.
E a rotina será mais que bem vinda às nossas vidas.
Quem sabe não conseguiremos fazer a primeira compra para abastecer a casa juntos, quando eu me mudar para o apartamento?
Eu com minhas coisas saudáveis, e ele com suas comidas gordurosas.

Sim, eu o amo!
Fiquem com Deus!

sábado, 21 de julho de 2012

Ontem eu chorei!

Boa tarde!

Passei muitas noites em claro no último ano, chorando muito e rezando, pensando se ele voltaria vivo para casa ou não, ou simplesmente tentando descobrir até quando eu me permitiria viver daquela forma.
Tentava dormir, mas não conseguia. Às vezes descansava os olhos, mas despertava assustada minutos depois, com o corpo tremendo e rígido de tanta  dor muscular.
Minhas crises de enxaqueca voltaram com força total, e meu neurologista prorrogou o tratamento.
Foram dias ruins. Eu chorava até perder a força.
E no dia seguinte, cedinho, quando eu chegava no trabalho com os olhos inchados, a desculpa era sempre a mesma: "Dormi mal, estava com muita dor de cabeça!"

Eu ando bem cansada ultimamente. Estou atolada de coisas para fazer do trabalho, arrumando o apartamento, comprando as coisas, a mobília, pensando na decoração, em como vai ser sair da casa da minha mãe...
Não tenho mais motivos para passar as noites em claro, mas parece que estou fugindo do sono e fico enrolando ao invés de ir dormir... Estou ligada numa tomada de 220 volts!

Isso significa que, mesmo que de uma forma bem mais controlada, ainda estou muito focada em minha vida a partir de meados de agosto até setembro. Algumas ansiedades ainda me atormentam. 

Percebi que esse ano não fui capaz de descansar praticamente nada, nem na mísera semaninha de férias que tive. Por mais que eu deseje fazer diferente, acho que só vou conseguir relaxar mesmo quando tudo isso chegar ao fim, quando eu ver que as coisas estão caminhando no curso certo!


Exausta!



E ontem eu voltei a chorar. Não chorei até soluçar ou perder a força, chorei só um tiquinho dessa vez!
Aliás, não foi a primeira vez que chorei como ontem, isso já aconteceu algumas outras vezes.

Mas agora, minhas lágrimas estão sendo de alívio. Um alívio tão grande dentro do meu peito que não tenho como descrever.
Ultimamente nem tenho pedido nada a Deus, mal tenho vontade de pedir. Eu só consigo agradecer por tudo de bom que tem acontecido na minha vida. E quando começo a agradecer, as lágrimas caem.

Estou me sentindo muito feliz!
Não só porque ele está bem, mas porque eu também me sinto bem. Sinto-me forte, centrada.
Não deixei o medo me dominar no dia em que chegamos de viagem e ele retornou sozinho, já de noite, para a clínica. Até tive o impulso inicial de pedir o dinheiro que estava com ele, mas voltei atrás. 
Eu sinto que estou conseguindo deixá-lo livre para escolher.

Esse é um dos segredos. Eu não posso sentir-me responsável ou dona das escolhas que ele desejar ou precisar fazer.
É preciso que ele aprenda a caminhar sozinho.
É claro que tenho que estar atenta e não facilitar, mas não posso fazer por ele...
Ele tem que ser responsável por suas atitudes. O máximo que posso fazer é apoiá-lo ou não.

Na verdade, as coisas já estão tomando o curso certo, e isso está me dando cada vez mais força para enfrentar o que vem (de bom e de difícil) pela frente.
Estamos felizes e com planos, que pela primeira vez vejo que serão concretizados.
E é isso que importa!
Então o que eu preciso agora é só descansar!
(Mas tá tão difícil! rsrsrs)

Um grande e apertado abraço...


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Não se iluda...

Estamos só o início, muita coisa ainda vai acontecer...

Quando meu amor soube do blog, ele ficou muito feliz. Abri para ele a postagem "O início de tudo", e ao perceber do que se tratava exclamou:
"Não acredito... É a nossa história!"

Respondi que era mais ou menos isso sim, mas que na verdade, era uma forma de expressar meus sentimentos, um desabafo, uma espécie de diário virtual.

Permaneci ao lado dele por uns instantes, e depois deixei-o sozinho lendo.

Ao terminar, ele me perguntou se não seria "perigoso", escrever essas coisas, pois algumas pessoas poderiam se iludir, ou criar expectativas em algo que pode não se concretizar. As pessoas poderiam achar que a doença tem cura, ou é fácil de ser tratada.

Imediatamente eu me recordei do blog que me serviu de inspiração (Amando um Dependente Químico), pois numa determinada postagem, uma leitora comentou exatamente isso, que a autora poderia estar criando falsas esperanças em outras mulheres que vivem histórias parecidas.

No caso dela, descordei completamente, pois ela já descreveu muita dor no blog. Muitas situações cheias de sofrimento e angústia. Momentos em que via o esposo chegar dominado pela droga. Carregando um bebê no ventre, ela chorou diversas vezes e passou grande parte da gravidez na fase de adicção ativa do marido. Durante a leitura de algumas postagens eu me emocionei.

Mas aqui, nesse blog, eu não cheguei a descrever os momentos horríveis pelo qual passei. Foi um ano onde vivi apenas em função da doença dele, e acabei adoecendo também. Minhas dores não foram transmitidas aqui, ao contrário, comecei a escrever quando meu bem já estava rendido ao tratamento, quando já havíamos reatado o relacionamento.
Comecei a escrever quando a Primavera já adentrava em minha vida...

Talvez isso faça sim, alguém criar esperanças em terreno que ainda não está firme. E essa não é a minha intenção. Deus me livre disso!

Não quero criar ilusões...
Como já mencionei algumas vezes, a dependência química é muito cruel. Nada fará o DQ parar de usar, a não ser sua própria vontade de parar. Ele não vai se importar com seu amor e dedicação, ele ultrapassará qualquer barreira para sustentar seu vício, sua fonte de prazer.

No dia que conversei com minha amiga que está vivendo a mesma situação que eu, falei isso com ela, que ela deveria ter consciência de que seu (ex)namorado fará coisas cada vez piores para conseguir usar a droga. E que o tratamento é possível sim, se ele se render.
E essa é a parte mais complicada! A rendição...
O DQ precisa aprender a descobrir quem ele é, precisa aprender a lidar com as perdas e frustrações.
E isso é muito difícil para eles.

Meu amor permanece limpo há 4 meses, mas só está bem e focado há cerca de 3 meses. Ele chegou a tentar nos manipular para encerrar o tratamento. E essa não é sua primeira internação, ele vem amadurecendo a ideia de ficar limpo desde 2009, e já passou por várias clínicas, além de usar drogas desde a adolescência.
O coração de quem o cerca já sangrou muitas vezes.

Minha vida ao lado dele não foi um mar de rosas, ao contrário...
Só agora eu comecei a ver as flores nascerem no meu jardim, e agora elas estão muito bem enraizadas...

Portanto, em se tratando de dependência química, mantenha sempre seus pés bem cravados no chão.
Filtre aquilo que escuta, procurando ler as entrelinhas das palavras do adicto que está ao seu lado.
Não se iluda, e não vá além do que puder suportar. E não se culpe se não tiver forças para seguir adiante.
Deus não quer sua dor, e nem a minha. Tenha fé...

Muita paz para todos!

terça-feira, 17 de julho de 2012

- Mentiras e Verdades -

Oi!

Estava ansiosa para vir contar como foi o fim de semana, que foi de muitas coisas boas, mas a correria de final de semestre me atropelou!

Chegamos bem cedinho ao Rio, e fomos direto para a casa de uma tia do meu bem, que nos recebeu maravilhosamente. O dia era livre, e isso facilitou para que conversássemos bastante.
Meu amor contou tudo sobre sua adicção para sua tia e seus primos.
Achei que esse foi um passo muito importante, ele parece não querer mais esconder suas misérias das pessoas que querem seu bem, e que ele sabe que torcem por ele. Ele não quer mais fingir que tudo é perfeito na vida dele. Doeu um pouco quando ele mencionou que me fez sofrer, senti vontade de sair da sala, pois as cenas daquele dia teimaram em aparecer na minha mente, mas permaneci ao lado dele, segurando sua mão. Eu sabia que era um passo difícil.

À noite fomos para a abertura do Conferência, que estava lotada.
O tema principal do evento era "O valor de um abraço". A sequência se resumia em uma partilha principal, feita por algum membro que já estava limpo há bastante tempo, e depois haviam vários sub-grupos onde um tema era debatido, também na forma de partilhas, e com tempo destinado para perguntas.
Alguns pontos abordados nesses sub-grupos foram:

"Princípios espirituais"
"Recuperação em família"
"Rendição"
"Sendo mãe em recuperação" (esse foi muito forte e emocionante)
"Esperança e liberdade"
"Espiritualidade e relacionamento"

Enfim... Todos muito interessantes... E além disso, trabalhou-se os 12 Passos.
Em alguns momentos nos separávamos, pois assistíamos partilhas diferentes.

Falou-se muito na importância de abraçar e sentir-se abraçado. Que o valor de um abraço não é algo mensurável, ele não tem preço!
Que não é um programa para TER coisas, materialista, é um programa para SER!
Achei bonito, pois todos eram muito enfáticos em dizer que é uma recuperação diária, mas ninguém falava de momentos difíceis, de recaídas, ou coisas parecidas. Todos demonstravam muita satisfação em estar limpo! Durante suas falas, eles inseriam o tema principal, explicando como um abraço dado num momento certo pode modificar nossa vida.

Lembrei de como desejei ser abraçada e cuidada naquela fase difícil que vivi ao lado dele, tanto durante sua fase ativa de drogadição, quanto logo após a internação. Mas não havia ninguém para me abraçar!


É interessante como as histórias se repetem. O sofrimento, tanto dos adictos quanto dos familiares, é sempre o mesmo. A dor é imensurável. As misérias são espelhos umas das outras.

Assisti sozinha a partilha "Sendo mãe em recuperação", e levei um susto logo que entrei na sala. Estava lotada, mais de 40 pessoas (as outras possuíam em torno de 15 a 20 pessoas), muitos ficaram em pé (inclusive eu!).
Era uma mulher, com aproximadamente 35 anos, mãe, limpa a cerca de 7 anos.
Contou que um filho era algo que sempre sonhou, mas seu pai tentou "comprá-la" de toda forma para que ela abortasse a criança, e acabou expulsa de casa quando recusou-se a fazer isso. Sua mãe foi proibida de ajudá-la, e o relacionamento com o pai do bebê não vingou.
Ela enfrentou tudo sozinha e resolveu lutar e assumir a gravidez e o fato de ser mãe solteira. Jamais desistiria desse sonho.
Porém, ela só conseguiu ficar limpa até 2 meses após o bebê nascer. Seguia para a "boca" levando o filho nos braços. Fez isso durante todo o primeiro ano de vida dele.
Até que um dia percebeu que não podia mais viver assim. Lutou tanto por esse filho e estava fazendo aquelas insanidades com ele...
Procurou o NA, e conseguiu!
Foi muito lindo o depoimento dela. Minha garganta ficou com um nó entalado, e nem sei como consegui segurar as lágrimas.
Muitos fizeram perguntas, também tão emocionantes quanto a fala dela.

A conferência, como um todo, valeu muito a pena... O evento foi muito bem organizado.
Meu amor gostou bastante, participou e até debateu com um outro rapaz que se mostrava relutante em render-se! Fiquei orgulhosa!!

Quando não estávamos lá, fizemos coisas deliciosamente rotineiras. Jogamos conversa fora em família, fizemos piadas de coisas bobas, etc. Foi delicioso!

Ele permaneceu o tempo todo muito atencioso e carinhoso comigo, sem as angústias, afobações e ansiedades típicas de um DQ na ativa.

E às vezes eu me pegava pensando "Isso é mesmo um milagre!"

No sábado fizemos uma surpresa para ele, com um bolo, parabéns e velas (seu aniversário foi ontem, 16/7).
Sua família estava lá. Para ser perfeito, faltou a mãe e irmã. Mas é claro que elas sabiam e ligaram para ele na hora do "parabéns pra você".
Ele ficou muito feliz. Nunca teve um aniversário NORMAL!

Falei com ele sobre o Blog, e ele leu e adorou. E mostrei também um vídeo fofo gravado pela irmã, cunhado e sobrinhos, em que eles desejavam um feliz aniversário!
Antes de dormir, mostrei-lhe uma mensagem que a irmã mandou com fotos deles. Ele chorou como criança e me abraçou, dizendo que estava muito feliz com aqueles momentos que estava vivendo ali.
Uma vez, antes disso tudo acontecer, em uma viagem para a casa da irmã dele, estávamos vendo umas fotos de aniversários dos sobrinhos, e ele comentou, com pesar, que nunca estava presente em nada:
"Não tem nenhuma foto comigo... Perdi tudo isso..."

Respondi que não havia problemas, pois de agora em diante ele poderia participar de todos.
E assim será!

No domingo, quando chegamos em nossa cidade, foi meio tumultuado. Eu não poderia trazê-lo para casa de minha mãe, pois ela ainda não o perdoou (e eu a respeito por isso).
O terapeuta o autorizou a voltar sozinho, de ônibus, para a instituição (que fica a, mais ou menos, 50km da minha casa).
Fomos para a rodoviária... Já era noite e cheguei a ter uma pontinha de medo, mas consegui me concentrar.
Disse apenas que ele sabia bem o que deveria fazer, e que a escolha seria dele.
"Fique calma, não há a menor chance de eu colocar tudo a perder de novo. Assim que eu chegar lá, peço a eles para te avisar."

Nem eu acreditei que consegui manter-me calma o tempo inteiro. Alguma coisa dentro de mim me dava a  absoluta certeza que ele não desviaria o caminho.
E assim aconteceu... Uma hora e meia depois ele já estava lá.

Percebi que estou conseguindo transformar meu medo em fé... Graças a Deus!
Contei a minha mãe que reatamos e tentei confortá-la dizendo que o tempo mostrará a ela que ele está bem.

Meu amor nasceu no dia de Nossa Senhora do Carmo, 16/7 (ontem), e teve uma missa especial, com distribuição de Escapulários. Como eu trabalho a noite, pedi a minha mãe que fosse e tentasse pagar um para eu dar a ele.
Hoje ela me falou: "Eu orei por ele ontem quando o Padre estava falando sobre os Escapulários..."

Como eu disse a ela, o tempo dirá...
O que importa agora é que não há mais mentiras...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Provações

Um mês de namoro...

Estou feliz, ou melhor, estamos felizes.
Hoje á noite iremos nos ver, e teremos um momento junto com  o terapeuta.
Quero passar para ele algumas das minhas aflições em relação a reinserção dele, que começa semana que vem.

Amanhã cedinho viajaremos para o Rio, e espero que tudo corra bem. Espero que ele aproveite bastante o que for trabalhado na Convenção.

Hoje deixei a co-dependência gritar alto dentro de mim. Quando nos falamos por telefone, ele me disse que pegaria o dinheiro para a viagem com a mãe dele, e eu cometi a insanidade de perguntar se isso seria motivo de preocupação para mim!

Digo que é insanidade porque é óbvio que não há motivos de preocupação, uma vez que ele não estará sozinho, há um monitor com ele, e ele já passou a fase crítica de fissura. E além disso, ele está tão feliz e ansioso com essa viagem...

Agora a pouco nos falamos novamente e desculpei-me por minhas palavras, mas, para minha surpresa (e alegria), ele reagiu super bem. Disse que já está preparado para essas cobranças e rótulos, e que está consciente que vai ter que encarar muito isso, por um bom tempo. Principalmente de mim e dos mais próximos.

O DQ em recuperação precisa provar o tempo inteiro ao mundo que não usa mais drogas, que mudou sua vida, que as coisas estão diferentes. Uma pergunta simples (e inconveniente) como essa que eu fiz é só uma amostra do que está por vir. Certamente haverão situações muito mais constrangedoras e difíceis para ele encarar.
Eu tenho plena consciência de que alguns desses momentos estarão envolvendo nossa rotina. Sei que pessoas próximas a nós dois lançarão olhares minuciosos (e até maldosos) o tempo inteiro.

Por isso, eu também já estou preparada para lidar com esses fatos, mas mesmo assim acabei falando besteira com ele, e isso me deixou muito mal. 

Hoje eu não estou muito bem, minha crise de enxaqueca me atacou feio ontem, e ainda estou meio zonza de remédio e de dor. Muitas das vezes minhas crises surgem em épocas que estou muito abalada emocionalmente ou me alimentando mal. No momento, não estou passando por nenhuma das duas situações, ao contrário, estou ótima. Acho que o que está havendo é um efeito tardio da fase ruim vivida no início do ano.
Lembro-me de que logo que tudo se resolveu (a internação) e eu comecei a relaxar, senti muito medo de cair doente, pois é assim que meu organismo sempre reage, mas  não adoeci, graças a Deus!
Então, como é agora que eu estou realmente em paz, minha companheira enxaqueca resolveu dar o ar da graça!
(Que saco!)

Mas enfim... Tirando isso, tudo está correndo da melhor forma possível.

Vamos ficar hospedados na casa de uma tia dele que ele adora, e ele está muito contente com isso. Segundo ele, é uma tia que fez parte de uma época boa da vida dele, e ele tem ótimas recordações. Logo que começamos a tratar essa ida ao Rio ele chegou a dizer que queria muito me inserir na família dele, que queria que soubessem quem eu sou. Foi bom ouvir essas palavras.

Pretendo falar e mostrar e ele esse blog no sábado.
Espero que ele goste.


quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pergunte de novo...

Uma ótima tarde a todos!

Amanhã completaremos um mês de namoro!
Ainda acho engraçado pensar que estamos começando a namorar!

Acho que a comemoração do aniversário de namoro é uma ótima oportunidade para eu contar como foi feito o "pedido".

O terapeuta deu um belo puxão de orelhas no meu bem no dia da visita que antecedeu ao dia dos namorados, pois ele queria me dar flores e bombons. Perguntou-lhe o que ele estava pensando da vida. Que ele deveria se conscientizar de que estávamos terminados e assumir o que fez. Que enquanto ele não colocasse suas misérias para fora nas reuniões em grupo ele estaria agindo como se "jogasse a poeira para debaixo do tapete".
Explicou-lhe que ele teria que recomeçar a vida partindo do início, em todos os setores. Que antes de me dar flores, ele tinha a obrigação de me perguntar se eu queria namorar com ele. E, se eu aceitasse, aí sim, ele poderia me presentear com qualquer coisa.

...

Eram por volta de 14h quando cheguei à clínica.
Seria uma terça-feira qualquer, se não fosse dia 12 de Junho.
Dia dos namorados!
Nos abraçamos e seguimos para uma praia pequenininha, à direita de Setiba. Apenas um cantinho de areia cercado de pedras.

O dia estava lindo. Ensolarado, mas não fazia calor, ao contrário, havia um vento bem fresquinho que tornava a tarde bem agradável.
Um turbilhão de sentimentos estavam tomando conta de mim. Eu estava pensando nessa tarde 24 horas por dia, desde o momento em que o terapeuta disse a ele que isso teria que acontecer.
Caminhamos de mãos dadas, descalços pela areia molhada, dedos entrelaçados.
Paramos um de frente para o outro, bem próximos, quase abraçados. Ele me segurava firme.
Só nós dois, o mar azul e o vento fresco.

Ele me olhou nos olhos e alisando meus ombros falou de tudo que passamos nesse último ano juntos, de toda a minha dor, de sua doença, que nunca mais quer me fazer sofrer como estava fazendo. E que quer ser  feliz ao meu lado, que quer simplicidade.
Falou com grande pesar sobre o colega da clínica que havia recaído no fim de semana anterior, que estava muito triste com isso, e que o rapaz estava sofrendo bastante. Disse-me que eu tinha todos os motivos do mundo para não acreditar e nem confiar nele, mas que pelo menos eu tentasse.

"Eu não tenho mais tempo para recaídas, isso não pode mais acontecer comigo. Já chega, eu estou muito cansado, minha lua de mel acabou. Se eu usar mais uma vez, eu não tenho mais saída além da cadeia ou da morte... Por favor, tenta confiar em mim... Eu quero ser feliz, eu mereço ser feliz, você merece ser feliz."

E então, retirando meu cabelo do rosto, ele fez a pergunta:

"Você aceita voltar a namorar comigo?"

Um nó formou-se em minha garganta e foi impossível conter as lágrimas. Eu não conseguia responder nada, absolutamente nada. Eu estava com medo. As palavras sumiram. Eu havia ensaiado mil coisas para dizer. Ainda não sabia se aceitaria ou não, e por via das dúvidas ensaiei dois discursos: um para aceitar e outro para negar!
Mas eu não consegui!

Naquele instante eu descobri que eu queria aceitar, mas estava dominada por um sentimento de pânico. Pânico de reviver aquele martírio. Eu não tenho mais estrutura para aguentar. As lembranças daquele dia me vieram a cabeça, e foi horrível. Mas ao mesmo tempo, foi naquele instante que eu tive a certeza de que ele realmente estava se tratando de verdade, estava buscando aprender a lidar com sua doença e que as palavras dele vinham do coração.

E ele, nervoso, me abraçou e falou:
"Não precisa responder agora se você não estiver pronta. Eu espero o tempo que precisar."

E eu o abracei forte, sentindo dentro de mim uma mistura de rendição e esperança.
Mas permaneci sem palavras... Soltei apenas uma frase rouca:
"Pensei em milhares de coisas para te dizer agora, mas eu não consigo falar nada."

Voltamos a caminhar.
Seguimos em direção as pedras, de mão dadas e paramos para olhar o mar, que estava incrivelmente lindo. 
Relembramos de quando nos conhecemos, de como a vida girou para chegarmos até ali.
Falamos de muitas coisas.

Nesse momento eu já estava mais calma. Então olhei nos olhos dele e disse:
"Pergunte outra vez..."

"Você aceita namorar comigo? Você quer começar hoje a nossa história? Construir nossa vida em terreno firme?"

"Sim, eu aceito!"

Ele falou de planos para nossa vida juntos, de nossa casa, de passarmos a vida um ao lado do outro.
"Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas."

Foi lindo e mágico!
Esse foi o primeiro dia dos namorados da minha vida. Não coincidia de eu estar namorando nessa data, ou quando estava, era em fase ruim do namoro. Isso sempre me causou certa frustração.
Demorou, mas valeu muito a pena!
É nessas horas que mais tenho a certeza do quanto Deus faz tudo acontecer exatamente na hora certa.



Vinícius de Moraes conseguiu traduzir em uma linda canção as palavras ditas por meu amor quando ele fez o pedido:

"...
Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem que me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque
E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois"

Parte da música "Minha Namorada" de Vinícius de Moraes

terça-feira, 10 de julho de 2012

"LEGO"


"Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação."
(Cecília Meireles)



Às vezes sinto um friozinho na barriga pensando se a primavera está mesmo chegando.
Às vezes a ansiedade me atormenta, e quando vejo, estou contando os dias, aflita, pensando em como vai ser...
É a co-dependência gritando!
Nessas horas, conto até 10, e tento mandá-la passear...

Meu amor está bem, graças a Deus.
Na sexta-feira viajaremos juntos para o Rio, para a Convenção Carioca de NA. Ele está tão ansioso para essa viagem que chega a ser engraçado.
O melhor disso, é que passaremos um tempo maior juntos, e vai ser possível conversar bastante.
Tenho tantas coisas para lhe dizer, inclusive sobre essas angústias.

Não quero, e não devo, ficar remoendo o que passou, pois se eu fizer isso não será possível ter uma relação saudável. Mas algumas coisas ainda precisam ser pontuadas.
Alguns limites precisam ser estabelecidos, por mais que ele esteja centrado, por mais que ele afirme que não quer me fazer chorar de novo, por mais que diga que a "lua de mel" com a droga acabou, por mais que ele demonstre mudanças, por mais que ele diga que já teve todas as recaídas possíveis, que não há mais tempo para isso, que quer ser feliz, por mais que TUDO...
Limites precisam estar claros e definidos.

Pela primeira vez, desde que estamos juntos, não estou com medo. Sensação que me acompanhava 24 horas por dia. Ao contrário, estou confiante, contudo ainda existem alguns conflitos internos, mas acho que isso é natural.

Estávamos fazendo planos de irmos morar juntos no meu apartamento, que desocupa agora em julho, mas Deus foi tão misericordioso comigo que não permitiu.

A recaída aconteceu antes...

Hoje me pego pensando em como seria a minha vida se fôssemos para lá com ele vivendo da forma como estava. Eu estava prestes a transformar minha vida em um caos ainda maior. Certamente o estrago seria bem pior do que foi.
Cheguei a pensar em desistir, deixar o apartamento alugado por mais um período, mas esse era um plano antigo que eu vinha adiando há algum tempo, então resolvi seguir adiante por mim! Daqui a aproximadamente 1 mês estarei de mudança para lá, e estou muito empolgada com isso. Cada dia compro uma coisinha nova para a casa nova!


Às vezes gostaria que as coisas fossem diferentes, saudáveis, "normais". Que nada disso tivesse acontecido, e que fôssemos juntos escolher a geladeira, o sofá e a bomboniere.
Mas com um adicto, na ativa ou em fase inicial de recuperação, nada pode ser muito "normal".

E então eu agradeço... Agradeço a Deus por seu amor por mim. Por cuidar de mim de forma tão perfeita.
Devagar as coisas irão se encaixar... Como naquele brinquedo de montar chamado "LEGO"...

Às vezes também sinto falta das minhas amigas, que são como jóias preciosas.
Sinto falta de colo, de carinho, de partilhar com elas minha dor que passou, e a alegria que vivo agora.
Sei que algumas delas não concordam com essa relação, por zelo, por não desejarem me ver sofrer (assim como a minha mãe).
Minhas amigas estão em silêncio, um silêncio que às vezes me incomoda. Um silêncio tão silencioso que me travou até para contar que reatamos e estamos muito felizes.

Mas eu respeito isso, não as condeno... Apenas sinto falta, muita.

Infelizmente, por um bom tempo, o preconceito e o "rótulo" ainda estarão presentes em nossas vidas. Mas não estou me importando com isso.

Estou conseguindo (e estou orgulhosa de mim por isso) não deixar nada me abalar.
Estou muito feliz e confiante.
E isso que importa! 
O resto, o tempo vai mostrar...

Meu amor completa o período de internação no dia 21 de Setembro, sexta-feira, mas não sei se é nesse dia que ele recebe alta. Ainda não sei como isso vai funcionar.
Mas sei que a estação da Primavera inicia-se no dia 23 de Setembro, isso significa que a minha primavera vai chegar na Primavera!
Perfeito!

Fiquem com Deus!






segunda-feira, 9 de julho de 2012

XIII Convenção Carioca de Narcóticos Anônimos


XIII Convenção Carioca de Narcóticos Anônimos
Nos dias 13,14 e 15 de julho.
Sua inscrição pode ser feita ao custo de R$20,00 (Vinte Reais), vagas ILIMITADAS.
Informações: Pedro (Coordenador) (21)7701-1356, Gustavo (Vice-coordenador) (21)7875-9151 ou Bruno (Secretário)(21)95207688.

domingo, 8 de julho de 2012

O segredo está na próxima...

Bom domingo, boa tarde!

Cheguei a pouco da Reunião do NA.
Fiquei muito feliz, pois haviam mais de 70 pessoas na sala, muitos deles limpos há vários anos.

Claro que, assim como ontem, na alta de um dos internos, projetei isso em meu amor.

A reunião foi muito boa. Os adictos falavam de si sem rancores ou frustrações por terem deixado a  vida de drogadição. Estavam felizes por participarem daquela conquista. Felizes por terem escolhido conhecer o programa.
Falavam que muitos ali eram verdadeiros milagres por estarem vivos.
Um dos primeiros a partilhar, falou com muito pesar que lamentava muito o que acontecia com muitos companheiros.
Um outro falou que um de seus afilhados havia morrido de overdose na semana passada, e que não era o seu primeiro afilhado a morrer, e que já foi a muitos enterros de companheiros de salas.

Mas, apesar desse lamento, a reunião foi muito boa e descontraída. Eles brincavam e caçoavam um do outro. Sempre num clima leve.

Uma frase foi repetida diversas vezes por vários dos mais antigos:

"Parabéns aos companheiros que receberam nova ficha, mas lembrem-se de que não fizeram mais que sua obrigação!"

Vários trocaram de fichas, inclusive meu amor, que recebeu a ficha de 3 meses (hoje ele completa 109 dias limpo).
Ele estava muito feliz, pois foi a primeira vez que isso aconteceu, mas ele também estava um pouco ansioso.

Ficamos o tempo todo de mãos dadas, ele me acariciando o cabelo, a nuca, as mãos. Dizendo ao meu ouvido que me adorava.

Como a Reunião aconteceu em um bairro bem próximo à minha casa, pedi a minha mãe que me deixasse lá para que ela pudesse ficar com o carro.

Ele chegou perto e a cumprimentou, com muitas reservas, ela retribuiu e foi até mais simpática do que imaginei.
Depois que ela se foi, ele me abraçou, com o coração disparado e tremendo, e chorou. Disse que sentiu muita vergonha ao vê-la.

Ela, com suas razões de mãe, não concorda com a nossa reaproximação. E eu a compreendo perfeitamente. 
Nos dias seguintes da última recaída, que foi quando ela descobriu todo o inferno que eu vivia e todas as minhas mentiras, ela me viu chorando por noites e noites seguidas, sem conseguir comer e sem vontade de fazer nada. Eu apenas saia para trabalhar e quando chegava ia para meu quarto chorar e tentar (apenas tentar) dormir. Eu não conseguia nem mesmo orar!
Nenhuma mãe quer ver uma filha sofrer assim!

No momento de sua partilha ele falou sobre como chegou até ali. Falou de seu padrinho e de algumas misérias que andava fazendo. Relembrou sutilmente daquele dia 13 de março e, nesse momento, eu chorei. Mencionou as últimas broncas que levou do padrinho por querer me presentear com flores no dia dos namorados e por já querer redimir-se com a minha mãe. Disse que teve que me pedir em namoro.
Passou um filme na minha mente lembrando-me do dia em que isso aconteceu, 12 de junho de 2012.
Foi lindo, foi mágico, foi verdadeiro...
(E vocês ainda saberão como foi, em breve)

Meu amor está renascendo!
E juntos construiremos nossa história em terreno firme!

Meu amor disse que aquele grupo, é um dos melhores, pois ali há muitos exemplos bons, que estão limpos há mais de 10 anos, pessoas que são como pilares nas salas de NA.

E todos esses "pilares" que estavam lá presentes mantiveram o mesmo discurso:
- Que é um processo diário de cura, e que o programa funciona.
- Que não conhecem  ninguém que conseguiu se manter limpo sem a ajuda de uma força superior.
- Que o programa foi criado por Deus para ajudar aqueles que precisam.
- E que um dos maiores segredos para manter-se limpo está sempre na próxima reunião.

"Volte, pois é assim que vai funcionar!"

Só por hoje!

Tente outra vez

Boa noite!
Sábado! Já é tarde, bem tarde, e estou exausta, mas eu não poderia ir para cama sem antes vir aqui contar como foi o dia de hoje.

Fui para a clínica acompanhada de uma amiga do Amor Exigente, o (ex?)namorado dela foi internado na mesma instituição há cerca de 2 semanas. Estou feliz com isso, pois o trabalho deles é muito sério e especialmente diferente. Desejo de coração que ele se renda ao tratamento para recomeçar a vida, assim como está acontecendo com meu querido.

Outro dia nós duas saímos para conversar, e eu dei um abraço forte nela, pois sei que era o que ela mais precisava naquele momento.
Lembro-me que logo que tudo aconteceu comigo, o que eu mais desejava era um abraço, que alguém me apertasse bem forte e me passasse um sentimento de proteção. Eu estava destruída por dentro e por fora, e não tinha ninguém perto de mim para me abraçar.
Uma de minhas amigas mais amadas está morando em outro estado e eu não podia contar com ela para isso. As que estão próximas não puderam me apoiar pois era meio de semana, e, infelizmente, a vida profissional  de cada um não pode esperar a gente acolher alguém que está em dificuldades. Eu não estava  frequentando o Amor Exigente, pois dou aula à noite. Ou seja, eu estava completamente sozinha.
Foi um momento bastante difícil.
Eu só recebi esse abraço dois dias depois, de um anjo que Deus colocou no meu caminho. Ela veio em casa me ver e eu me senti um pouco mais segura.

Então eu quis dar a essa amiga aquilo que eu sabia que ela mais precisava, um simples abraço.
Temos conversado um pouco, trocando ideias.
Olho para ela hoje e me vejo, num passado muito próximo. Sei exatamente a dor que ela está carregando: a insegurança, o medo, a sensação de traição, de derrota, a raiva, o nojo, tudo... Mas eu sei que vai passar, Deus irá iluminar os caminhos dela assim como está iluminando o meu.
Ela também é uma pessoa de fé!

Mas vamos ao dia de hoje... Que, por sinal, foi ótimo.

A sensação de leveza tomou conta de mim, principalmente porque eu percebo que estou, realmente, com os pés fincados no chão, e ele centrado em sua recuperação. Estamos muito felizes curtindo esse "início de namoro". Ele faz mil planos para nós.

Ele me contou que está em uma fase do tratamento que está sendo muito difícil, pois está trabalhando o "Passo 4", que é inventariar moralmente a sua vida.
Ele precisa colocar no papel absolutamente tudo que já fez, despir-se, mostrar-se a si mesmo, assumir e expor seu real caráter. Cutucar em feridas que ele nem sabia que existiam.
Com os olhos lacrimejando ele me falou algumas coisas que ele já descobriu sobre si.
A minha psicóloga já mencionou sobre isso uma vez, que será um momento de muita dor, mas muito importante para ele.

Uma das coisas que me deixa mais segura em relação a tratamento dele, é ver a confiança e respeito que ele tem pelo terapeuta, que é seu padrinho. É como se meu amor pedisse a benção dele para tudo, rsrs.
A escolha do padrinho precisa ser feita com muita sabedoria, e já é uma das demostrações de que o adicto está se rendendo.

Tivemos uma tarde deliciosa. Ele passava o tempo todo me acariciando com as pontas dos dedos, me abraçando, me cheirando. Planejando, sonhando...

Houve um momento de muita emoção hoje.
Um dos internos recebeu alta, e teve uma espécie de cerimônia. Foi muito bonito e emocionante.
As pessoas ficaram sentadas em círculo e cada um dos internos falou uma mensagem para o rapaz. Todos falaram, os monitores, o enfermeiro, a moça que ajuda na casa, o proprietário da clínica, e terapeuta.
Ficou evidente que era um cara muito querido de todos, dono de um bom coração e cheio de humildade. Pareceu ser o tipo de pessoa que jamais se envolveria com drogas, mas infelizmente se envolveu!
Alguns se emocionaram bastante, pois antes de chegar ali, ele foi internado numa dessas clínicas que tratam o DQ como lixo. O lugar já é conhecido como "calabouço", e está localizado na cidade de Piúma-ES (fujam de lá!).

Ele estava sofrendo muito naquele lugar e a família resolveu tirá-lo de lá a transferi-lo de clínica, e no dia que chegou nessa instituição, emocionou a todos com a alegria que demostrou ao sentir a leveza do lugar, ao ser acolhido com abraços, e agradeceu a irmã e a mãe por o terem levado para lá.

Os olhos dele brilhavam. Ele estava muito feliz!
Ele vai recomeçar... E vai dar certo para ele, já está dando certo.

É claro que projetei meus pensamentos para a primavera que chegará em breve, a alta do meu amor!

Veio-me a música de Raul Seixas - Tente outra vez:

"Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!
Beba!
Pois a água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!
Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não pense
Que a cabeça aguenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que gira
Bailando no ar
Queira!
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!
Tente!
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que se vive a vida
Tente outra vez!"

quinta-feira, 5 de julho de 2012

- Rendição -

Quinta-feira!

Hoje foi um bom dia!
Tive consulta com minha psicóloga e falamos bastante no assunto. Falei tanto que mal deu tempo de respirar!

Hoje também foi dia de falar com meu amor por alguns minutos.
Ele está cheio de planos para nossa vida a dois, cheio de expectativas, de vontades.
Isso é bom, é bom vê-lo assim, pois ele tem falado de forma bem leve e verdadeira. Antes sua voz era aflitiva e tensa quando conversávamos sobre um futuro conjugal, mesmo quando o assunto partia dele (e geralmente partia dele!).

Porém, a ansiedade dele em viver essa nova fase às vezes me deixa um pouco insegura, e também acabo ficando ansiosa. E isso me mostra que preciso trabalhar muito isso em mim.
A ansiedade é uma da maiores inimigas do adicto.
Percebo que preciso centrar minhas orações, buscar sabedoria nas decisões e nas escolhas.

Eu não posso permitir que meus sentimentos me traiam, ou me permitir a fazer planos antes de ter certeza de que tudo está, verdadeiramente, bem. O tratamento do dependente começa mesmo quando ele recebe alta.
Enquanto eles estão nas clínicas, estão seguros das armadilhas do mundo real. Armadilhas estas que eles irão encontrar em cada esquina que passarem. 

Mas eu jamais terei controle sobre isso. Eu não posso voltar a crer que estando comigo ele estará seguro, pois esse plano já não funcionou uma vez!

Será preciso muita calma, serenidade, paciência e fé, de ambas as partes.

Aliás, fé é uma coisa que sempre passou longe dele. Ele sempre foi muito relutante em permitir a presença de Deus na vida dele.
Isso me afligia muito.
Eu orava por ele 24h por dia, mas ele não estava aberto a receber minha oração. O dia em que tudo aconteceu, por exemplo, era o último dia de uma novena que eu estava fazendo em intenção a ele.
Senti-me tão frustrada, cheguei a ficar triste com Deus, achando que minhas orações não eram dignas.
Mas isso passou logo.
Deus é tão bom, que jamais vai fazer algo por nós se não permitirmos que Ele faça. E o meu amor não permitia, ele não queria ter que se submeter a Deus.

Mas isso também mudou nele. Estranhei muito no início. Fiquei muito desconfiada de que ele estivesse tentando me manipular. Vê-lo falar de fé chegou a me causar desconforto.
Hoje sei que sua conversão está acontecendo, que ele está se rendendo.


"Deus foi tão maravilhoso comigo que mesmo com todas as besteiras que eu já fiz na vida, mesmo eu não acreditando Nele, Ele me pinçou da lama e me trouxe para cá."


E hoje ele falou:
"Eu tenho muita certeza de que Deus preparou tudo para que a gente ficasse junto."

Essa certeza sempre existiu dentro de mim, mas como não existia dentro dele, não estava dando certo.
Mas agora vai dar! Já está dando!


Ele me deu uma deliciosa notícia hoje: além de nos vermos no próximo sábado, na visita, também nos veremos no domingo, pois alguns internos virão bem próximo à minha casa para uma reunião do NA que haverá troca de ficha, e ele me pediu que eu fosse também. Será minha primeira reunião de NA.

O centro terapêutico onde ele está internado fica a cerca de 50 Km de onde eu moro, em um outro município. Lá eles fazem um trabalho bem bacana de participarem de salas de NA em locais próximos. Eles também participam de eventos e conferências que julguem interessantes, mesmo que seja em outro estado. Não são todos os internos que vão, existem alguns critérios para isso, claro. E o terapeuta também vai acompanhando. Meu amado já foi a um evento em Belo Horizonte, e iremos ao Rio no próximo dia 13 para uma conferência.

Bom, acho que é isso por hoje.
Só por hoje!

Boa noite!




quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Não perca de vista a primavera que o outono prepara"

Boa noite!

Lembro-me de que quando meu bem saiu da fazenda ano passado, eu estava tão feliz em saber que ele havia feito o tratamento e que seríamos felizes para sempre, que eu irradiava otimismo!

Eu falava o tempo inteiro coisas boas com ele, que tudo daria certo e que ele não precisaria se preocupar, pois estaríamos sempre juntos.
Ele sempre fazia piada disso, chamando de "otimismo irritante"!
Eu não percebia os sinais...

Ele me contava das reuniões do NA, eu contava das reuniões do Amor Exigente, enfim...
Eu tinha certeza de que ele estava bem, e que aquele mal humor era esperado, pois, com certeza, nada estava sendo fácil para ele.
Era uma nova vida.

E realmente não é fácil. O DQ precisa aprender a viver sem a droga, ou melhor, ele precisa aprender a VIVER!
E a mudança é muito mais complexa do que imaginamos.
É preciso uma mudança geral em todo o comportamento. Na alimentação, na rotina, no trabalho, nos horários, nas amizades, nos pensamentos.
É um renascimento!

Quando ele teve a primeira recaída fiquei arrasada, sem chão, sem ar.
Depois que aquela primeira tempestade passou eu disse a ele que eu jamais perderia aquele "otimismo irritante". Que não tinha problema, pois recomeçaríamos tudo de novo...
E várias outras vieram... E, contrariando minhas expectativas, eu fui perdendo o otimismo...
E após uma delas, chorando, eu implorei a ele que me fizesse voltar a ser "irritantemente otimista"!
Mas ele não foi capaz de fazer isso por mim!


Ontem, uma querida amiga me perguntou porque eu associava a fase ruim ao outono, e não ao inverno.
E eu respondi a ela que acho o outono meio triste, sem graça, as árvores ficam feias. Não gosto.
O inverno é frio, mas é aconchegante, as pessoas se aquecem no inverno, aquecem umas as outras, se aproximam. Há uma certa poesia no inverno!

Eu eu orava: "Senhor, faça com que minha primavera chegue logo. Faça com que o outono se vá rapidamente".
Até que um dia percebi a sabedoria das palavras ditas pelo Pe. Fábio em uma canção:


"Como é que você reage às quedas que sofre na vida?
Como é que você administra os fracassos?
Não há receitas mágicas que nos façam vencer os obstáculos.
Mas ouso dizer que há um jeito interessante de olhar para as quedas que sofremos.
É só não permitir que elas sejam definitivas.
É só não perder de vista a primavera que o outono prepara.
Administre bem os problemas que você tem, não permita que o contrário aconteça.
Se você não administrá-los, eles administrarão você."


E então eu comecei a não brigar tanto com o outono...

Hoje vivo dias de calmaria. Desejo muito que as tempestades não voltem.
Desejo viver a primavera que o outono está preparando.
A fase de internação findará no início da primavera, após 21 de setembro.
E será neste momento que a recuperação dele irá verdadeiramente começar.

Graças a Deus ele está cada dia melhor, mais consciente de suas falhas e fraquezas.
Cada dia tem se dedicado mais ao programa. Já fala em tentar reparar os erros, em pedir perdão.
As coisas precisam acontecer devagar com ele, para que a mudança seja plena e verdadeira.

Como eu mencionei numa postagem anterior, dentro de mim, tudo está acontecendo muito rápido, e isso me deixa meio tonta, mas ao mesmo tempo, de forma bem serena, pois estou vendo tudo de forma muito limpa.  Até minhas preces estão mais sensatas, menos aflitas. E é assim que tem que ser!

Amanhã é 5ª feira, e é dia de ligação, teremos alguns minutos para falar por telefone.
Isso é bom!


terça-feira, 3 de julho de 2012

Leve...

Boa tarde, pessoas!

Sinto-me tão leve e feliz ultimamente.
Não só por ele, mas principalmente por mim.


Pode parecer estranho a quem lê, mas eu agradeço todos os dias por aquela recaída. Todos os dias mesmo.
Pois foi a partir dela que percebi o quanto eu estava vivendo em função da enfermidade dele, e isso não é nada saudável, e quase fez com que eu me afundasse também!
Aprendi que preciso estar bem comigo mesma, para que assim eu tenha sabedoria para não deixar com que a co-dependência me afete como vinha afetando.

O dia inteiro eu só pensava se ele voltaria para casa, se ele escolheria o padrinho no NA, se ele iria à reunião, se a mãe dele perceberia algo diferente, se ele estava sentindo vontade de usar, se ele tinha algum dinheiro, se..., se..., se...


Além disso, agradeço também porque foi através da recaída que parei de mentir.
Eu mentia para minha mãe. Ela não sabia das recaídas.
Mentia para algumas amigas amadas também.
E eu odeio mentiras!


Sinto-me leve...


No início, tive muito receio de estar me iludindo de novo.
Mas hoje tenho certeza de que não estou enganada. Hoje percebo que não sou eu que estou vendo as coisas na ilusão de um mundo cor-de-rosa; é o meu bem que está se mostrando outra pessoa.
A mudança dele é absurdamente notável! Graças a Deus!!!


Fico rindo sozinha lembrando das coisas que ele diz, que podem ser banais para alguns, mas que jamais foram percebidas por ele antes.
Ele pediu que eu o explicasse uma coisa referente ao meu trabalho, falou do meu vestido, do meu cabelo, da minha cachorrinha.
E para minha surpresa maior, falou até do meu esmalte e de um sapato! (rsrs)



Constantemente tenho umas seções com o terapeuta que o acompanha, e isso está me ajudando muito a enxergar as coisas pelo ângulo certo.
Passo para ele o que meu bem me diz, minhas aflições, meus medos.
Na primeira vez que nos encontramos ele me disse a maior verdade dessa história toda e que me fez abrir os olhos como nunca:


"O homem que você diz que ama só existe na sua imaginação. Esse homem que está com você é um monstro, capaz de fazer qualquer coisa pela droga. Ele vai mentir, vai te manipular, vai fazer tudo para conseguir usar. Ele não sabe lidar com nada na vida, com relacionamentos, com decisões, com escolhas. Ele não sabe nem quem ele é. Para que ele te faça feliz, é preciso que ele se renda ao tratamento, que entenda que não pode controlar a situação. Ele tem que matar esse homem e deixar um outro nascer. E se isso acontecer, ele poderá te fazer feliz. Talvez até muito mais feliz que você imaginou..."


Essas palavras ficaram marcadas na minha mente. Lembro delas quase que diariamente.
Foi difícil aceitar que era a mais pura verdade.
Talvez por isso eu tenha ficado tanto tempo desconfiada de seus sinais de mudança, principalmente quando ele falava de Deus.

Antes do pedido de namoro (que ainda vou contar como foi, aguardem...), em uma visita, meu amado falou com os olhos cheios de lágrimas:


"Hoje eu vejo que já me rendi a tudo. Me rendi a você, ao tratamento, a simplicidade da vida que quero ter ao seu lado. Me rendi a vontade de ter um filho com você... É isso que eu quero, coisas simples, supermercado juntos, esperar você chegar do trabalho, cozinhar para você, passear com a Melzinha... Só isso! É disso que eu preciso para ser feliz. Eu não tenho mais tempo para recaídas, chega! Quero cuidar de você..."


E é por isso que sinto-me leve e feliz!


A recuperação é diária, a luta é diária.
E estamos vencendo diariamente...
É por isso que eu acredito que o amor e a fé sempre podem vencer quando se tem vontade de vencer!

Um grande beijo a todos e até breve!