Boa tarde e uma ótima quinta-feira a todos!
Quando estivemos no RJ para a
convenção de NA, pude perceber que eu, na minha infância e adolescência, era
uma presa fácil para cair no mundo da drogas.
Por muito tempo vivi centrada em
minhas dúvidas, frustrações, medos, falta de aceitação, sentimentos depressivos
e de vazio, enfim... Todos aqueles sentimentos que levaram os adictos a
desenvolverem a doença.
Ao ouvir os depoimentos,
principalmente das mulheres, eu era capaz de me identificar em muitas falas, em
muitas situações.
Agradeci a Deus por não ter
acontecido comigo.
Meu amor chegou a comentar “Para
você, seria uma fuga e tanto...”
Ainda não sou capaz de
perceber os motivos pelo qual alguns, como eu, não trilham por esse caminho,
mesmo com todas os sentimentos favoráveis a isso, e outros, como meu amor,
acabam fazendo essa escolha.
Eu sempre fui muito medrosa, e
ainda sou. Tenho medos simples, como de escuro, de barata, de atravessar a rua,
de me perder; e tenho medos grandiosos, como de perder alguém que amo, de ser
vítima de violência e de acidentes.
Mas já tive medo de não ser
aceita, de não ser amada, de ser infeliz, de ser chata, feia, burra, e outras
coisas assim.
Talvez o medo tenha sido um
grande aliado meu, pois, apesar das várias chances que tive de experimentar
cocaína na juventude, sempre tive medo dela, medo de gostar!
Após sete anos de terapia, estou
aprendendo a lidar com esse turbilhão de pensamentos errados que giravam na
minha cabeça e criavam milhares de conflitos internos. Muita coisa já melhorou
dentro de mim, sinto-me bem mais madura. E não permito mais que a falta de amor
próprio seja minha melhor amiga.
Antes tarde do que nunca!
Eu nunca me imaginei vivendo ao
lado de um DQ ou um alcoólatra, na verdade, eu não imaginava nem a profundidade
desse problema. Acho até que, como a maioria das pessoas, não pensava no
assunto, pois eu não tinha nada com isso!
Sofri muito na fase ativa do meu
amado, pois descobri minha impotência perante esse inferno. Mas vê-lo lutando e
buscando ficar bem a cada dia me dá forças para aceitar suas limitações e lutar
junto com ele.
Lembro-me de que quando nos
conhecemos, há anos atrás, quando só tínhamos um singelo “casinho”, e eu achava
que ele apenas fumava maconha e cheirava de vez em quando, mas que não era
nada grave; eu cheguei a pensar “talvez, se ele começar a gostar de
mim de verdade, ele pare com isso”.
Eu desejava que ele gostasse de
mim, pois sempre foi divertido estar com ele, eu me sentia bem, mesmo sem
maiores envolvimentos.
O terapeuta da clínica, outro dia, disse uma
frase clássica: “Parar de usar drogas é muito fácil. É só você mudar sua
vida toda!”
Hoje sou capaz de compreender que
ele não tem que parar por mim. Ele tem que parar por ele mesmo. Por perceber o
que a droga foi capaz de fazer com sua vida, e até onde ela foi capaz de
levá-lo.
Mas veja bem, Padre Fábio de
Melo, no programa de ontem, falou, de forma muito sábia, que “renovar o
sentido da vida, carece olhar as pessoas que estão ao nosso redor”. E
ele citou como exemplo, justamente os alcoólatras e dependentes químicos. Que,
ao ter a real noção do sofrimento que está causando a quem o cerca, o usuário
pode sentir-se motivado a mudar de postura por amor. Ele pode ser capaz de
mudar suas escolhas ao descobrir que existe alguém que o ama, e assim ele
também aprende a amar.
“Sabemos que amamos quando
somos capazes de mudar posturas por aqueles que amamos”.
Ele iniciou o programa dizendo
que precisamos desenvolver a capacidade de fazer a leitura do avesso das
pessoas e das situações. Que isso nos levará a uma melhor compreensão dos
momentos que estamos vivendo. E que quando conseguimos identificar as situações
inadequadas em que colocamos a nossa vida, daremos início a um processo de
transformação.
“A vida é muito mais bonita
quando superamos nossas mentiras e infidelidades”
Ele falou também sobre o
significado exato do perdão.
“Perdão é querer bem”.
Algumas vezes é bom nos
perguntarmos por que certas coisas nos magoaram tanto, isso nos ajuda a superar
e a encontrar um sentido.
A chave para o perdão está em
descobrir o quanto se ama. Ou seja, quanto maior o laço com a pessoa que
precisamos perdoar, mais fácil é, pois maior é a necessidade de superar e
esquecer. Quando não há laços, as coisas ficam mais complicadas.
Pessoas como os alcoólatras e
usuários de drogas ilícitas precisam encontrar um sentido para renovar sua vida. Eles precisam descobrir o caminho do amor, do perdão, do renascimento. E nós precisamos aprender a olhar o avesso deles.
Que venha a nova vida... Cheia de
novas flores...
Contrários
(Pe. Fábio de Melo)
Só quem já provou a dor
Quem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar
Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer
Que o verso tem reversoQuem sofreu, se amargurou
Viu a cruz e a vida em tons reais
Quem no certo procurou
Mas no errado se perdeu
Precisou saber recomeçar
Só quem já perdeu na vida sabe o que é ganhar
Porque encontrou na derrota algum motivo para lutar
E assim viu no outono a primavera
Descobriu que é no conflito que a vida faz crescer
Que o direito tem o avesso
Que o de graça tem seu preço
Que a vida tem contrários
E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou
E o ódio é uma forma tão estranha de amar
Que o perto tem distâncias
E o esquerdo tem direito
Que a resposta tem pergunta
E o problema, a solução
E o amor começa aqui
No contrário que há em mim
E a sombra só existe quando brilha alguma luz.
Só quem soube duvidar
Pôde enfim acreditar
Viu sem ver e amou sem aprisionar
Quem no pouco se encontrou
Aprendeu multiplicar
Descobriu o dom de eternizar
Só quem perdoou na vida sabe o que é amar
Porque aprendeu que o amor só é amor
Se já provou alguma dor
E assim viu grandeza na miséria
Descobriu que é no limite
Que o amor pode nascer