quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi!

Como falar sobre amanhã?
Será que consigo palavras para descrever o que estou sentindo?
Vamos lá...

A alta é amanhã...

E parece que foi ontem que o deixei na clínica, derrotado, apenas com umas poucas peças de roupa na mochila, sem mais nada a perder.
A única coisa valiosa que lhe restava era a vida, e ele tinha a opção de lutar por ela ou abandoná-la de vez...
Por mais que pareça absurdo dizer isso, pois qualquer pessoa em sã consciência escolheria viver, foi uma decisão muito difícil para ele. Sim, difícil pois os adictos não estão em sã consciência quando estão na fase ativa, e eles precisam se assumir impotentes, fracos e se submeterem a um Poder Superior maior que eles próprios.
Eles não podem mais ser "O único Rei de sua vida".

Como diz o terapeuta da clínica: "Parar de usar drogas é muito fácil, é só você mudar sua vida toda!"

E para mim foi difícil voltar a acreditar no seu desejo de recuperação e confiar nele de novo.
Foi difícil acreditar que o amor dele por mim havia se tornado, agora, maior que o amor pela droga.
Nem mesmo quando reatamos eu estava totalmente segura de seu propósito.

Foi então que coloquei-me diante de Deus e percebi que eu deveria olhar a situação com uma visão de cristã para perceber que o milagre que eu tanto orava ao Pai que acontecesse estava diante de mim.
Que àquelas simples orações que eu fiz para ele há anos atrás, quando nem pensávamos em ficar juntos, apenas pedindo a Deus que cuidasse dele, estavam fazendo efeito.
E que isso não havia acontecido antes apenas porque meu amado não se permitia viver o milagre, e não porque Deus não me ouvia, não me amava, ou por eu não ser digna de ter uma graça atendida.

Deus desejava me atender e desejava resgatá-lo, mas meu amor não acreditava. Então Deus nada podia fazer, pois Ele nos ama tanto que nos deixa livres para escolhermos nossos caminhos.

Um dia, numa visita, meu bem me disse:
"Eu agradeço a Deus porque, apesar de você ter 'jogado a toalha', você ficou segurando a pontinha dela".

E hoje ele me agradeceu por eu estar ao lado dele. Disse que será o dia mais importante de sua vida.

A emoção ainda não bateu tão forte, parece que estou anestesiada, mas amanhã será um dia de emoções intensas (ainda bem que não sou cardíaca!) e sei que não vou conseguir conter as lágrimas. E como comentei no último post, tenho chorado bastante nos últimos dias.
Eu já sou chorona por natureza. Choro em final de novela, em filme romântico, e choro vendo E.T. até hoje... Imaginem como será amanhã!

Domingo é meu aniversário, e Deus está me dando um presente maior que eu achei que receberia um dia.
Minha mãe irá comigo, o que também é um grande presente. Ele pediu muito a ela que fosse.

Agradeço a todos que estão acompanhando o blog e torcendo por nossa felicidade!

Já são 23:44h dessa quinte-feira... Ou seja, já é quase "amanhã"...
Isso significa que preciso ir deitar para descansar um pouco.

Fiquem com Deus e orem por nós... Amanhã será um lindo dia em nossas vidas.
Um dia de Primavera...









Emoções e solidão...

Oi oi oi oi...

Hoje é quarta-feira e meu amor já está na casa da mãe dele, e dessa vez, ele só volta para a instituição para receber a alta, que será na sexta-feira, ou para visitar os amigos que deixou lá.
Nos falamos a pouco por telefone, a saudade é grande e o amor também!

Meu dia foi agitado, como tem sido sempre ultimamente. Passei a tarde no apartamento tentando acertar mais algumas coisas, pois resolvemos que vamos para lá mesmo sem estar pronto (a mini obra virou uma novela de horário nobre!). Já levei algumas roupas e objetos pessoais, tanto meus quanto dele.

Felicidade...

Essa semana contrariei o jeito "Flor" de ser e não fiquei nada ansiosa, confesso que até estranhei isso em mim. A semana está passando rápido e o que eu estou sentindo é uma emoção muito forte, aliada a uma alegria e a uma certeza de que o milagre aconteceu.
Não sei explicar!

Chorei várias vezes desde ontem. Fui dormir aos prantos, e pela manhã, quando me dirigia para o trabalho também não consegui segurar as lágrimas, que foram de alegria, de emoção, de compaixão... Chorei por tudo, menos por tristeza!

Isso porque ontem recebi um email de uma amiga muito querida dizendo que faria alguns docinhos especiais para meu 'aniversário-chá-de-panela', que será no sábado lá na casa nova. Ela demonstrou estar tão empenhada em me ver feliz independente de qualquer coisa, em me ajudar a deixar a festa mais bonitinha (porque será tudo bem simples), em me agradar e me presentear, que não consegui me conter. Eu chorava como criança e agradecia a Deus.

Como já disse em outros posts, enfrentei tudo muito sozinha, não havia com quem conversar. Minha única amiga que me acalentava também estava cheia de problemas e eu não achava justo incomodá-la. As outras não moram mais aqui na minha cidade, e por não saberem de tudo que passei (pois eu omitia), ou por não saberem como lidar com isso mantiveram-se, e ainda se mantém, em silêncio.

E o silêncio é barulhento para mim, e me machuca às vezes.
A falta de comentários, de questionamentos, de um simples telefonema perguntando "como estão as coisas, e os preparativos?".
Isso me deixa meio melancólica.
Mas, graças a Deus, esse incômodo é raro de acontecer. E consigo não permitir que ele me machuque de forma muito profunda.
Consigo tirar a dor de dentro de mim, baseando-me no fato de que, para quem não vive essa situação, é muito complicado entender e opinar sobre o assunto.
Não tenho rancores ou mágoas de ninguém, por mais que às vezes me sinta só na minha felicidade. Sei que elas me amam e querem meu bem, e é isso que importa.
Amadureci com essa solidão também.

Então, ao ver o empenho de minha amiga para alegrar minha festinha singela, em um momento que eu nem esperava, eu não dei conta, e desabei de emoção.

Estou muito feliz e encantada.

Ao longo de minha vida, diversas vezes achei que vim ao mundo para dar errado, para não ser feliz como eu desejava ser, que eu não era merecedora de coisas boas, e ainda que eu não deveria ter sonhos pois eles não se concretizariam.
Eu cheguei a supor que minha oração pelo meu amado não chegaria a Deus, pois eu não era ninguém tão especial assim para ser atendida por Ele.
Enfim, passei grande parte da minha vida menosprezando a mim mesma, mas Deus é tão perfeito que me mostrou no meio de uma forte tribulação quem eu era, e que eu estava completamente enganada em tudo. Ele me provou que o amor e a oração, associados ao desejo de mudança, tudo podem.

Estou vivenciando um milagre maior quer tudo que imaginei viver.

Partilhei sobre isso hoje na reunião do grupo de mulheres Juntas Podemos Mais.

Aliás, a reunião foi deliciosa, estava bem mais cheia que na semana passada (estamos crescendo!).

Foi falado sobre o instinto natural da mulher em ser dominadora e dona das situações. Sobre como podemos sufocar àqueles que estão ao nosso redor (adictos ou não) com o nosso desejo absurdo de superproteger.
Que quando pensamos que estamos conseguindo controlar nosso "alvo problemático", na verdade, é ele quem está nos controlando.
Controlamos seus horários, seus afazeres, sua alimentação, suas vontades, etc... Ou seja, deixamos de viver nossa vida para viver em função da vida dele, de seus problemas.
Sendo assim, quem, verdadeiramente, está no controle?
Certa vez minha psicóloga me alertou quanto a isso, dizendo-me para ter muita cautela, pois eu deveria ser a mulher de meu amado, e não a mãe.

Isso é péssimo, é sofrido, é codependência.

Depois do encontro, fui dar carona para algumas meninas e passamos lá no apartamento para elas conhecerem, e todas adoraram.

Está chegando a hora de meus sonhos se realizarem... Na verdade, acho que os sonhos já estão se realizando...
E eu só tenho a agradecer pelo homem novo que Deus preparou para viver ao meu lado.

domingo, 23 de setembro de 2012

Porque é Primavera, te amo...

Como hoje é o dia em que se inicia a Primavera, eu não poderia deixar de vir aqui dar um "Oi" e desejar a todos um lindo início de estação...

Em Dezembro do ano passado, quando meu amor estava na fase ativa de sua adicção, e usando praticamente todos os dias, em uma noite de dor, eu orei a Deus pedindo que me ajudasse a sair dessa fase triste de outono e inverno.

Naquela época, eu já não conseguia mais pedir a Deus que incomodasse o coração dele, pois era visível que ele não estava aceitando ajuda, então Deus nada poderia fazer. Eu só pedia a Ele para me dar forças e me ajudar a fazer a coisa certa, mas nem eu sabia qual era a coisa certa, só sabia que não queria mais viver daquela maneira, mas sentia-me impotente.
E eu falei chorando muito:


"Senhor, me ajude a ver a primavera, eu não quero mais viver em dias frios e feios, sem flores no jardim da minha vida. Eu já não tenho mais forças..."

Repeti essas palavras várias vezes.

No dia seguinte cedinho, antes do trabalho, eu fui à missa.
Eu quase não acreditei quando percebi que a leitura do dia era do livro "Cântico dos Cânticos", onde se canta amor em versos e poesias. E na homilia o Padre falou sobre como o amor nos ensina a viver as superações da dor e das traições.

Segue a leitura daquele dia.

Capítulo 2
"8.- Oh, esta é a voz do meu amado! Ei-lo que aí vem, saltando sobre os montes, pulando sobre as colinas.
9.Meu amado é como a gazela e como um cervozinho. Ei-lo atrás de nossa parede. Olho pela janela, espreito pelas grades.
10.Meu bem-amado disse-me: Levanta-te, minha amiga, vem, formosa minha.
11.Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas.
12.Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. Em nossas terras já se ouve a voz da rola.
13.A figueira já começa a dar os seus figos, e a vinha em flor exala o seu perfume; levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem.
14.Minha pomba, oculta nas fendas do rochedo, e nos abrigos das rochas escarpadas, mostra-me o teu rosto, faze-me ouvir a tua voz. Tua voz é tão doce, e delicado teu rosto!
15.- Apanhai-nos as raposas, essas pequenas raposas que devastam nossas vinhas, pois nossas vinhas estão em flor.
16.- Meu bem-amado é para mim e eu para ele; ele apascenta entre os lírios.
17.Antes que sopre a brisa do dia, e se estendam as sombras, volta, ó meu amado, como a gazela, ou o cervozinho sobre os montes escarpados."



A minha tão sonhada Primavera chegou, em todos os sentidos, tanto na estação, quanto na minha vida.
Hoje, pela manhã, enquanto meu amado estava na reunião, eu fui à missa, e eu só conseguia agradecer ao Pai por eu não ter desistido de tudo, por eu não ter deixado de crer. Eu chorava pela alegria que estou vivendo. E então eu lembrei daquela manhã em que Ele me disse que o Inverno estava findando e as flores estavam surgindo.

Que as flores venham até o seu caminho também.
Fiquem com Deus e tenham uma linda semana florida.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

21 de Março...

Ontem, 21 de Março...

E hoje, 21 de Setembro...


Parece que foi ontem que tudo aconteceu...
A primavera tem início no próximo dia 23.

Lembro-me perfeitamente de cada detalhe ocorrido entre os dias 13 e 21 de Março, e também dos dias subsequentes. Foi um período muito sofrido. Por diversos dias eu não dormi, não comi e não me concentrei para fazer nada. Eu não era capaz de conversar com Deus e nem de conversar com alguém, as palavras simplesmente não saíam da minha boca. Meu olhar não fixava em absolutamente nada. Meu sono era agitado e meu corpo tremia.
No dia da internação, era uma quarta-feira, ele estava completamente agressivo comigo (verbalmente falando), me dava más respostas o tempo inteiro.
Lembro-me que ele falou, com um tom extremamente arrogante, antes de sairmos de casa:
"Olha, eu vou ficar lá por três meses e já está bom, mas eu nem sei se vamos ficar juntos..."

Eu olhei para ele e ri de forma debochada.
"Espera aí... Se tem alguém que tem que dizer que não sabe se vai ficar junto aqui sou eu... Você não está me fazendo favor algum... Se enxerga!"

Depois que o deixei no centro terapêutico, quando eu estava indo embora, ele amansou, me pediu um abraço, chorou e disse:
"Me desculpe pelas grosserias de hoje... É que é muito difícil para mim... Tudo é muito difícil..."

Eu mantive uma postura que não era comum a mim, até hoje não sei como consegui. Mantive-me firme, seca e não chorei em momento algum. Eu tinha certeza de que seria a única chance de vida para ele.
Mas ao voltar para casa, ao longo do trajeto (mais ou menos 50 Km), estava engasgada, chorando e orando a Deus que incomodasse o coração dele.
Eu estava sem forças, queria dormir e descansar, mas ainda tinha que trabalhar.
O trabalho era a única coisa capaz de me fazer esquecer o pesadelo que eu havia passado.
Eu odiava as quintas-feiras, pois era dia de ligação e eu sentia dor ao ouvir a voz dele, mas eu também não conseguia ignorar a existência dele e não ligar para lá.
Lembro-me que quando ele tinha cerca de 40 dias de internação, tentou manipular a mãe dizendo que queria sair.
Eu fui tão rude com ele... Nem sei como tive sabedoria para isso... Mas acho que funcionou...


Às vezes gostaria de esquecer tudo isso, deletar da minha memória, mas não consigo. 
O lado bom é que essas lembranças já não me causam mais dor alguma. Ao contrário... Agradeço muito à Deus pelo que passou, pois realmente, passou... E não é sempre que me recordo disso, mas hoje não teria como não lembrar.
Em alguns momentos penso que é bom relembrar, pois olho para trás e vejo como eu estava sofrendo ontem e como estou feliz hoje.

Tive um dia muito feliz, passei metade dele sorrindo para o vento. Em alguns momentos eu me perguntava se era mesmo real ou se não era sonho... Parece que estou flutuando...
Essa sensação acontece comigo porque mais da metade da minha vida eu sempre tive uma auto-estima muito baixa. Achava-me não merecedora de coisas boas, ou sempre achava que tudo daria errado mesmo!

Antes de entrar nesse relacionamento eu desconhecia o termo "codependência", mas hoje sou capaz de perceber que ela fazia parte da minha vida desde sempre. Achei-me culpada pelo fracasso do casamento dos meus pais, pelos meus desentendimentos com minha irmã. Pelas vezes em algo dava errado com minhas amigas. Sempre tentei abraçar os problemas de quem estava ao meu redor. Eu focava no mundo, mas não focava em mim.

Minha recuperação começou no mesmo dia em que internei meu amado.
Quando eu retornava para casa, o filme da minha vida passou diante de mim, e eu percebi o quanto eu estava doente, o quanto eu errei, não só com ele, mas na minha vida inteira, o quanto eu me permiti viver no sofrimento e permiti que me manipulassem, o quanto eu depositei minha vida e minhas alegrias nas mãos dos outros. E então percebi que deveria dar um basta, que não podia mais viver assim.
Estou tentando me curar. Olhar para mim mesma. E devagar estou conseguindo.

Meu amado já está aqui em casa comigo. Fomos dar uma olhada em sofás e também fomos ao apartamento para ele ver como está ficando nossa casinha.
Está tudo com cheirinho de amor.
Felicidade!!!

A alta dele será na próxima sexta-feira, dia 28 de Setembro, às 14h. Dois dias antes de meu aniversário...
Deus é mesmo danadinho, e sabe, de verdade, o que faz!



Sobre a codependência:
...
Codependência é uma condição específica que se caracteriza por uma preocupação e uma dependência excessivas (emocional, social e a vezes física), de uma pessoa em relação à outra, reconhecidamente problemática. Depender tanto assim de outra pessoa se converte em uma condição patológica que caracteriza o codependente, comprometendo suas relações com as demais pessoas.
...
Codependente tem seu próprio estilo de vida e seu modo de se relacionar consigo próprio, com os demais e com a pessoa problemática. Devido sua baixa auto-estima, ele sempre se preocupa mais com os outros do que consigo mesmo (pelo menos aparentemente).
...
Não se consegue compreender porque essas pessoas abrem mão da possibilidade de ser feliz ou de diminuir o sofrimento, permanecendo atreladas à pessoa problemática, suportando toda a tirania de sua anormalidade, como se esse fosse o único papel reservado pelo destino.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A vida é bonita, mas pode ser linda

Boa noite, pessoas!

Uma linda noite de quarta-feira... A lua está perfeita no céu, é crescente. Está ventando bastante e por isso está fresquinho. Adoro esse tempo!

Acabei de chegar de uma reunião diferente.
Apenas mulheres se reunindo para tratar de assuntos como angústias, alegrias e situações cotidianas. Muito legal. Começou por iniciativa da esposa do proprietário do centro terapêutico em que meu bem está internado. Ainda é um grupo pequeno, mas acho que vai crescer, e recebeu o nome "JUNTAS PODEMOS MAIS". A maioria das participantes também é namorada ou esposa de interno ou ex-interno.

As reuniões seguirão os moldes das reuniões do NA, ou seja, há um tempo para falar e sem direito a opinar na partilha alheia. Mas é claro que, como são várias mulheres juntas, e mulher é um ser que ADORA falar, algumas vezes é inevitável uma meter o pitaco na fala da outra, ou falar mais de uma vez. rsrs

Os "Doze passos" foram adaptados para nossa realidade, de companheiras e codependentes, e trabalharemos em cima disso.
E também vamos seguir a ideia de que "o segredo estará na próxima reunião".
Perfeito!

Falei de minhas angústias do momento.
E essas angústias não estão relacionadas à adicção de meu amado. Estou, sim, um pouco ansiosa com a saída dele, que deve ser na sexta-feira, dia 28 (e já estaremos na estação da Primavera, oba!), mas não por medo de algo dar errado, mas pela vontade de começar a vida a dois na nossa casa.
Estamos tão felizes, tão juntos, tão cúmplices, tão amigos, tão...
Não tenho palavras...
Deus foi mesmo muito perfeito comigo e organizou as coisas da maneira mais linda possível, que eu não tenho como não estar grata por tudo que vivi.

Minhas aflições são outras, coisas pessoais que já venho tentando trabalhar em mim há um bom tempo. E já melhorei muito, mas às vezes ainda me atormentam.
Andei meio exausta demais, e por isso algumas vezes acabei perdendo a paciência por pouca coisa. Até postei que estava me sentindo chata de tanto dizer que estava cansada! 
Passou...

A cada dia descubro coisas novas sobre mim, coisas que gosto e que não gosto, fatos que me alegram e outros que me aborrecem, defeitos e qualidades. Hoje consigo prestar mais atenção nas minhas qualidades e tentar corrigir meus defeitos.
Descobri que não posso passar minha vida apenas me preocupando com a vida e os problemas dos outros, tentando ajudar aos que me rodeiam. Isso é co-dependência!
Eu preciso dar conta de mim mesma todos os dias, pois se eu não fizer isso, ninguém fará!

E agora, que estou começando uma vida de casada, isso é muito importante.

Meu amado retornou para a instituição na terça-feira cedinho, e pela primeira vez, desde que ele assumiu o tratamento, deixei o medo gritar dentro de mim e acabei falando uma besteira. Olhei para ele, com celular e óculos de sol e foi inevitável relembrar o passado, quando nada de valor podia estar em poder dele. E, como temos um diálogo muito verdadeiro, não hesitei em falar:
"Amor, me desculpa, mas estou com medo de você assim, com essas coisas... Não queria sentir isso, mas senti..."
(Olha a co-dependência gritando... Arrependi-me antes mesmo de terminar a frase!)

"Você quer que eu deixe aqui?"    (Ele falou com a voz calma, mas foi possível perceber que ficou magoado)

"Não, não... Desculpe... A escolha é sua, eu sei..."

Deixei-o no terminal de ônibus, e, como eu estava meio emburrada devido ao medo que me acompanhou naquele instante, me despedi mal dele. Só que como não tive tempo de corrigir, passei metade do dia aborrecida e triste comigo mesma!
Mas sei que ficar aborrecida não iria me ajudar em nada, então tratei de fazer as pazes comigo mesma e logo passou a angústia. Graças a Deus passou...

Xô, co-dependência! Xô...

Acho que gostei da reunião de hoje pois ela irá funcionar como uma terapia também. A gente aprende não só a ouvir o outro, mas a se ouvir. E isso faz bem para a alma.

Após sete anos de terapia eu aprendi a praticar um exercício comigo mesma que acho muito legal. Eu filtro absolutamente tudo que leio e escuto. Procuro ler as entrelinhas de cada frase, e tento adaptar com a realidade daquilo que estou vivendo naquele momento. Funciona! Tiro grandes lições de frases que podem ser banais ou passar despercebidas.
Por exemplo, tomei para mim o slogan de O Boticário, que diz "A vida é bonita, mas pode ser linda".
Preste atenção na profundidade dessa frase e repita para si mesma como um mantra!

Meu amor está limpo a 182 dias (6 meses e 2 dias), e está feliz. Não sente peso algum, não sente frustrações por ter que abrir mão de algumas coisas. Meu amor é outro homem.

Eu sei de suas limitações, sei de suas fraquezas e sei que muita coisa não será fácil. Mas mesmo assim eu o amo e quero estar ao lado dele.
Não me arrependo em nenhum instante por não ter desistido, mesmo com o coração sangrando como estava. Mesmo estando destruída por dentro e por fora.
Hoje eu olho para trás e agradeço a Deus por tudo, e vejo que valeu a pena.

É claro que cada caso é um caso, cada história é uma história e cada realidade é uma realidade. Por isso, quando converso com alguma amiga que vive a mesma situação, eu sou franca e digo:

"Vá até onde você achar que deve ir. Siga seu coração, mas com os pés no chão. Fique atenta às sutis mudanças de comportamento dele. Não se iluda, ele não vai parar de usar por você, e você não vai conseguir impedi-lo de usar. Acredite que ele te ama e que ele deseja parar de usar, mas é uma decisão muito difícil para ele".

Seja feliz! Isso é o mais importante.


Pe. Fábio de Melo disse hoje em seu programa:
"Somos todos merecedores do amor de Deus. Ele nos ama mesmo quando estamos na miséria ou quando não merecemos Seu amor, mesmo quando nós O desprezamos, Ele continua a nos amar."

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Paz, paz, paz... Tudo em paz...

Quero começar este post agradecendo àqueles que estão sempre lendo minhas publicações e que me levaram aos mais de mil acessos em três meses.
Muito obrigada pelo carinho!

Nunca me imaginei escrevendo um blog, e para minha surpresa (já que sou inexperiente no assunto), ando sendo bem elogiada!
Obrigada mesmo, de coração!
Meu querido fica ansioso para ler o que há de novo e eu adoro ter a participação dele nisso.
Mesmo quando coloco algo que está me angustiando (como na postagem anterior), nem assim ele reclama, ao contrário, sempre diz que tenho minhas razões para isso e que ele não tem o direito de não compreender.


Meu amor ainda está aqui em casa, ele conseguiu ficar mais um dia para resolver um assunto particular.
Foi ótimo tê-lo juntinho por mais algumas horas...
Estamos nos acostumando ao convívio diário. Sabemos que haverão altos e baixos, mas até agora conseguimos resolver as coisas muito bem. O diálogo e a cumplicidade estão grudadinhos com a gente.

Ele anda meio quieto de ontem para hoje. Está ficando ansioso com o lance do emprego, principalmente porque as duas clínicas prováveis dele voltar a trabalhar estão localizadas bem pertinho da minha casa.
O terapeuta disse para ele não se preocupar com isso antes de ter alta, mas sinto que ele está matando um leão por dia. E até entendo...
Vivemos em uma sociedade onde o homem deve ser o líder do lar. O homem precisa trabalhar e sustentar a família, precisa colocar comida na mesa, e todas essas coisas que sabemos bem.
Não estamos com problemas financeiros nenhum, ao contrário, graças a Deus, quando mudarmos não haverá nem uma prestaçãozinha pendente sequer. Nem dos móveis e eletrodomésticos, nem do carro, nem do tratamento dele, nem do apartamento, nada... Ou seja, só temos as contas normais para pagar, coisa que já faço todo mês!
Mas não adianta... Ele não consegue mandar a sensação de impotente ir pastar!

Meu amor é um excelente profissional, e não vai ficar sem emprego, e lá no fundo ele sabe disso. Mas está complicado para ele saber que sairá da clínica em menos de duas semanas com essa pontinha de dúvida se vai conseguir ou não.
Deus faz as coisas muito certas e já tivemos provas suficientes disso, e tenho certeza de que o emprego virá da melhor maneira possível, e essa insegurança vai passar.

Nosso final de semana foi ótimo.
Curtimos a família dele, passeamos na roça, jogamos War com o sobrinho dele (que joguinho mais chato! rsrs), encontramos alguns conhecidos dele, enfim, tudo correu na mais perfeita paz.
Acabei relaxando em relação aos fantasmas do passado.
Consegui ouvir minha voz dizendo a mim mesma: NÃO DEPENDE DE MIM! A ESCOLHA SÓ PODE SER DELE!

Chegamos ontem a tardinha na casa da mãe dele, a deixamos lá e viemos para a minha casa.

Paz, paz, paz... Tudo em paz...


"...Amar não é ter que ter sempre certeza 
É aceitar que ninguém é perfeito pra ninguém 
É poder ser você mesmo e não precisar fingir..."

Uma ótima semana a todos!
Fiquem com Deus!




sábado, 15 de setembro de 2012

Livre para voar!

Escrevi este post ontem, mas só agora estou conseguindo publicar...



Hoje é sexta-feira e desde já desejo que tenham um excelente final de semana!
Desejo isso para mim também.

Minha semana foi boa, apesar da eterna correria, e tive alguns pontos marcantes. Estou me sentindo meio chata nos últimos dias, pois ando usando a frase "estou muito cansada" com uma frequência maior do que costumo dizer. E acho isso um pouco incoveniente, pois tenho a sensação de que estou apenas reclamando o tempo todo. E eu detesto pessoas que só reclamam.

Na quarta-feira, dia 12 de setembro, meu amado completou 175 dias limpo e além disso, completamos três meses de namoro.
É... Três meses... Afinal, começamos nossa nova vida no dia 12 de junho.
Como meu bem está na fase do "desmame", ele sai da clínica nas quartas-feiras à tarde e vem para minha casa. Recebi sua vinda nesse dia especial como um presente Divino.
"Amor, você sabe que dia é hoje?"
E ele lembrou a data. Isso, apesar de parecer um detalhe bobo para muitos, foi uma coisa marcante para mim.

Ele trouxe na bolsa duas cartas que escrevi logo no início de sua internação. Na primeira delas, escrita em maio, eu fui bastente dura, apontando situações de dor em que vivi ao lado dele.
Lembro-me que o terapeuta me pediu que lesse a carta olhando nos olhos deles. Foi horrível reler aquilo e relembrar as cenas que descrevi. Meus olhos lacrimejaram.
A segunda carta foi escrita em junho, e entreguei no dia da visita pedindo que ele lesse no dia dos namorados, que seria dentro de três dias. Eu não sabia que o terapeuta iria mandá-lo me pedir em namoro. Eu falei do significado dessa data para mim, que era uma data que eu sempre me sentia triste pois nunca havia tido um dia dos namorados feliz. Também engasguei quando li.
Resolvemos que vamos incinerar todas as cartas escritas durante o período de sua adicção ativa quando formos para o apartamento definitivamente, que, por sinal, ainda não está pronto. E isso estava me consumindo! Mas percebi que ficar nervosa não ajudaria o apartamento ficar pronto mais rápido.

"Amor, hoje eu sei o quanto esta data significa para você e eu te prometo que seus próximos dias dos namorados serão felizes".

Na quinta-feira ele me ajudou a corrigir provas e isso foi delicioso. À noite fomos à reunião. Ele ao NA, e eu ao Amor Exigente.
Fico muito orgulhosa ao vê-lo fazendo a coisa certa e lutando diariamente por sua recuperação. E fico feliz ao perceber que ele confia em mim e partilha também comigo seus sentimentos.

Ele me contou que tem sido elogiado pelos companheiros por suas partilhas. Em uma das terapias, um interno partilhou, de maneira meio pessimista, que devido às insanidades que já cometeu na vida, muitas vezes sente que não é digno de receber as graças de Deus. Meu amor, em seguida, desculpou-se dizendo que não era um retorno, mas que ele se sente, sim, merecedor do amor misericordioso de Deus, pois já sofreu bastante na vida durante sua fase ativa de uso de drogas, mas que hoje sabe que merece e quer ser feliz.

Isso se chama sintonia!
Sim, estamos em sintonia...
E a sintonia pode ser traduzida em amor. Nos amamos muito.

Minha mãe está, da maneira dela, ajudando-o muito a crescer. Vira e mexe ela dá uma espécie de puxão de orelha nele, e ele sempre me conta depois com certa satisfação. Principalmente porque nessas conversas ele consegue perceber que ela gosta dele.

Hoje estamos em Minas, na cidade dele, onde a irmã ainda mora. É uma cidade interiorana, mas que me assusta com a quantidade de pessoas com problemas com drogas. A sensação que tenho é que em TODAS as casas existe um usuário. Um horror!

Chegar aqui me causou certo desconforto e me remeteu lembranças ruins, pois viemos para cá em fevereiro, e ele já não estava bem, sempre aflito e agitado, em função da abstinência.
Fomos até a casa dos avós paternos dele, e logo que paramos o carro, mais uma recordação desagradável, pois da outra vez que estivemos lá, discutimos assim que chegamos devido a uma grosseria que ele fez comigo. Tudo desencadeado por sua doença.

Além disso, aqui ele viveu momentos intensos de uso de drogas. E tem muitos "amigos" daquela época. Fico angustiada achando que ele pode encontrar alguém na rua e isso desperte nele o desejo de usar. Ele não sai sem mim, mas mesmo assim, me sinto frágil.
Cheguei a perguntar se ele sentiu vontade de rever alguém e me incomodou muito ouvir uma resposta positiva. Meu medo é que essa vontade seja de rever aqueles que sempre usavam junto com ele.
Fiquei irritada também ao vê-lo pegar o número de telefone de um primo, que cresceu junto com ele e fez parte de toda sua vida. E com quem teve sempre momentos de noitadas, cheias de mulheres, bebidas e drogas. Um turbilhão de pensamentos me dominou, mas procurei afastar os pensamentos mirabolantes e repeti a mim mesma "Ele precisa ser responsável pelas escolhas dele, e arcar com as consequências".
Eles se amam, são primos e não tenho como mudar isso. Muito menos tenho o direito de impedir o convívio. Graças a Deus consegui manter-me em silêncio.
Ele repete sempre que nada mudará o propósito dele de ter uma vida ao meu lado, mas confesso que me sinto muito insegura nessas horas.

Eu preciso conviver com esses encontros, afinal, minha cunhada mora aqui.

Hoje sei que era pura ilusão minha achar que estando comigo ele estava seguro, só porque conseguia ficar limpo alguns dias a mais. Mas, na verdade, era só eu dar as costas que ele saía para usar.
Isso se chama co-dependência, como todos já sabemos!

Não depende de mim... Não depende de mim... Não depende de mim...
Eu preciso gritar isso para mim mesma, preciso deixá-lo livre, preciso deixá-lo voar com suas próprias asas, por mais que isso me doa.

Hoje, o que importa é que estamos felizes, e muito!
Estamos em um fim de semana em família, coisa que não existia na vida dele antes.
E amanhã é outro dia...



POR MAIS QUE A GENTE ERRE, POR MAIS QUE SEJAMOS MISERÁVEIS, NÓS MERECEMOS A VIDA!
(Pe. Fábio de Melo)


Estamos completando quase mil acessos em três meses!
Muito obrigada a todos que partilham comigo esses momentos, e obrigada pelo carinho.
Fiquem com Deus!
bjs
Flor

domingo, 9 de setembro de 2012

A recuperação deve ser apenas por ele!

Domingo... Finalzinho de feriadão...
Já estou fisicamente distante do meu amor. Mas agora está pertinho dessa distância terminar.
Não estou tão ansiosa, e nem acho ruim essa separação, sei que é necessária e extremamente importante. É claro que lá no fundinho eu preferiria estar ao lado dele o tempo inteiro, curtindo nossa vidinha, principalmente depois de vários dias grudadinhos.
Mas logo lembro que estaremos juntos de novo no meio da semana... E aí tá tudo bem!

Meu amado chegou em minha casa na quarta-feira no final da tarde, mas só nos vimos à noite, pois eu havia saído para o trabalho e ele ficou aqui com minha mãe, e até foram juntos ao shopping!
(Obrigada, meu Deus, por essa alegria!)

Na quinta-feira cedinho fui trabalhar, minha mãe viajou, e ele ficou dormindo.
Foi inevitável. Lembrei-me da última vez que eu havia saído e o deixado em casa ("aquele dia"), e percebi a diferença de sentimentos. Naquele dia, eu saí angustiada, triste, com medo, chorando, pressentindo que algo errado aconteceria. E aconteceu!
Dessa vez, nada de ruim passou pela minha cabeça. Nenhum sentimento de medo me atormentou. Fui tranquila. Dei um beijo nele e disse que o amava, e ele retribuiu. Deixei um bilhete ao lado dele na cama.

Quando cheguei, na hora do almoço, ele me abraçou muito. Disse que ficou pensando na vida e que chorou de felicidade. Que agradeceu a Deus pelo que está vivendo. Disse que era muito grato ao seu terapeuta e padrinho, que o amava e nunca teria como agradecê-lo por ter salvo sua vida.
Chorei também.

Na sexta-feira viajamos para passar o feriado no interior, na casa da minha avó, que completou 88 anos!
Ele já havia ido lá comigo, uma semana antes de tudo desabar sobre minha cabeça, e por isso, quando chegamos na cidade tive algumas recordações ruins, pois ele já estava numa fase de bomba-relógio, e eu vivia escutando o tic-tac da explosão.
Mas graças a Deus, as lembranças ruins foram embora rapidinho. Ele estava tão diferente da viagem anterior. Tão mais paciente, mais atencioso com minha avó, com minha mãe.
Nós até chegamos a ter uma discussão bobinha nesses dias, mas a nossa sintonia nos faz perceber logo que estamos errados e que não vale a pena brigar ou ficar emburrado um com o outro.
Logo fazemos as pazes. E é muito bom isso!


Ele não conhecia muitas pessoas da minha família, apenas as tias mais próximas. Mas nesse final de semana a família inteira estava lá, e ele teve que encarar TODO MUNDO! (coitado! rsrs)
Digo "encarar" no sentido de assumir um relacionamento, e não por sua adicção, pois eles não sabem de sua doença.
Todos gostaram dele. E ele deu conta do recado! Até ganhamos uns presentinhos para nossa casa!

E a minha avó, numa conversa extremamente moderna para quem já tem 88 anos, disse-me com todas as letras:
"Mas você vai casar pra que? Vai só morar junto? Já tá bom assim..."
Morri de rir... E ele também.
"Vó... Casamento é sagrado para mim, é um sacramento... Eu e ele fazemos questão de casar na igreja!"

Passamos os dias na casa da fazenda, no mesmo lugar que ficamos da outra vez, mas foi bem diferente, pois eu estava tranquila, e meu amor, mais ainda.
A casa estava lotada, todos os netos ficaram lá.
Meus primos bebem muito, e alguns até fumam maconha e usam outras drogas eventualmente. Meu bem sabe disso.
Na sexta-feira e ontem eles beberam bastante, o dia inteiro e sem parar. Mas em instante algum o meu querido demonstrou aflição, ou deu indícios de que desejaria estar lá com eles.
"Amor, você também é alcoólatra, certo? A bebida não está te incomodando?"
"Não. Não sinto mais vontade... E se fosse para eu recair, com certeza não seria com bebida, seria com a 'droga preferida'. Mas nada me faz ter a vontade de perder essa paz."

Em um dado momento, um de meus primos o chamou para "tomar uma com eles".
"Não, obrigada, não bebo"
Simples assim!
Antes, ele sempre dava um jeito de me manipular para conseguir beber, dizendo que se bebesse uma cervejinha comigo não havia problemas, pois ele sabia que beberia só pouquinho, e que não teria mais nada além do álcool.
Hoje eu sei que a bebida é terminantemente proibida para um adicto, mesmo que ele não seja alcoólatra. O álcool faz com que o desejo pela droga seja despertado, e ele certamente irá usar na primeira oportunidade que tiver. Todas as vezes que ele bebeu "só um pouquinho" comigo, depois que eu saí de perto (voltei para minha casa) ele saiu para usar!
(Portanto, não seja ingênua como eu fui, e NÃO CAIA NESSE PAPO! É manipulação!)

Sempre que tínhamos oportunidade, como quando íamos dormir, conversávamos e partilhávamos um pouco. Sem máscaras, sem segredos, sem reservas.
Às vezes acho que ele também encara isso como parte de seu tratamento.

Meu amor está leve como eu estou. Ele está feliz, e sua paz é realmente verdadeira. Sabe quem são seus amigos verdadeiros atualmente. Sabe o que o faz feliz. Ele está focado em sua recuperação.
"Não quero que você pense que estou desmerecendo nossa relação, mas é por mim que tenho que me recuperar. Você e minha mãe não podem ser prioridades nisso. Sou eu..."

Fiquei aliviada quando ouvi isso, pois todas as vezes que um DQ tenta se recuperar para agradar alguém, já é sinal de que não assumiu sua doença. 
Tipo, se eu sou diabética, não posso controlar o açúcar para que minha família não fique triste ou brigue comigo. Preciso controlar o açúcar pois ele pode me matar! É apenas por minha saúde que eu preciso me tratar.

A recuperação é diária, e é sempre o HOJE que importa.

Sempre acreditei que nosso reencontro em 2010, após tantos anos sem notícias um do outro, era algo sagrado. Quando tudo aconteceu, minhas certezas ficaram atordoadas, cheguei a desacreditar e ter minha fé abalada. Mas toda essa confusão mental foi bem passageira, graças a Deus. E hoje, tenho cada dia mais certeza de que Deus está entre nós.

Tenham uma ótima semana!
Fiquem com Deus!

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Não é pirraça, é autismo!

Outro dia conheci uma professora jovem, bonita e bem resolvida, que tem um filho de três anos recentemente diagnosticado como autista. Situação delicada a dela...
Conversamos muito a respeito, e apesar de mal nos conhecermos, ela me deixou muito à vontade para esclarecer diversas dúvidas sobre a doença. Varamos a madrugada em um bate-papo delicioso...

Chegamos na questão do preconceito e despreparo do ser humano para lidar com o desconhecido.
Ela me disse que é comum ser olhada de maneira recriminatória pelas pessoas em locais públicos, pois em alguns momentos a criança autista, que vive em um mundo só seu, tem atitudes que, vistas de fora, podem  aparentar uma "pirraça".

Até comentei com ela que eu mesma, na minha ignorância, certamente pensaria isso também. E como isso seria errado da minha parte!


Preconceito (prefixo pré- e conceito) é um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente. As formas mais comuns de preconceito são: social, racial e sexual.
(Wikipédia)

Eu nunca me considerei uma pessoa preconceituosa. Aliás, sempre detestei atitudes discriminatórias. Mas a partir daquela conversa comecei a repensar minha vida e ver em quais momentos tive posturas de pré-julgamentos em relação a algum fato qualquer, mesmo que fosse em algo simples como uma pirraça!
Graças a Deus não me lembrei de nada. Mas isso não significa que não aconteceu!

Há alguns anos, na escola, houve uma situação horrível, que me deixou muito mal.
Eu sempre brinco com meus alunos, quando eles me entregam atividades mal feitas, com a expressão "serviço de preguiçoso" ou "serviço de porco".
Nesse dia, eu estava elaborando um material e escrevi "cartolina preta". No mesmo instante em que eu escrevia, um aluno veio me entregar um exercício que estava cheio de rasuras.
Era um rapaz muito querido e que eu tinha muita liberdade para brincar, e soltei a frase "mas que serviço de preto é esse?". A turma ficou em silêncio e eu imediatamente senti meu corpo gelar. Ele era negro.
Eu NUNCA, em toda minha vida falei nada nem parecido com isso. Sempre odiei essa expressão dita dessa forma. Falei por causa da maldita "cartolina preta".
Sem a menos intenção fui extremamente preconceituosa e doeu em mim.

Nem dormi naquela noite. Chorei tanto!
Lembrava da minha infância quando outras crianças implicavam comigo por eu ser muito branca e magra. E eu havia feito a mesma coisa com alguém que eu amava.

No dia seguinte eu conversei com uma professora, que é uma de minhas melhores amigas (e é negra!) e pedi que me confortasse. Depois o chamei, junto com alguns outros alunos da sala, e pedi desculpas. Na verdade eu mais chorava do que falava. Acho que nunca me senti tão mal por dizer algo.
Ele me abraçou e disse "Eu sei que você não é assim 'fessora', não precisa chorar mais não. Eu acredito que foi sem querer!", e depois saiu rindo e brincando "Mas agora vai ter que me passar de ano!"
Até hoje, quando lembro disso, sinto meu corpo arrepiar de agonia.

O preconceito está aí, é fato! Mesmo quando a gente nem percebe, pode estar julgando uma situação ou alguém de forma maldosa. Como no caso das crianças autistas!
Aquela professora que comentei no início me disse que existe uma ONG cujo nome é algo como "Meu filho não é mal educado, é autista!"

O dependente químico, mesmo em recuperação, será sempre alvo de preconceitos. Ele carregará um rótulo.
Às vezes penso que as pessoas ficarão o tempo inteiro só observando e esperando um mínimo vacilo para dizer: "Eu sabia que ele não conseguiria!".

Uma vez assisti uma entrevista do ex-jogador de futebol e comentarista da Rede Globo Walter Casagrande, que já teve problemas sérios com drogas, chegou a ser internado, e hoje faz acompanhamentos para manter-se em recuperação. Ele falava sobre isso. Disse que até quando está resfriado, se levar a mão para coçar o nariz, muitos já o olham de forma desconfiada.
O dependente precisa entender que irá lidar com isso.

Eu já não me importo mais com comentários preconceituosos que possam vir. Não deixo isso me abater em absolutamente nada!
Eu sei do propósito do meu amor, sei que ele, AGORA, quer a recuperação, sei que ele está lutando, que estamos construindo nossa vida em terra firme e que estamos felizes.
O que mais importa para mim é que não preciso mais mentir para minha mãe, algumas amigas e, principalmente, para mim mesma.
Na verdade, nem me incomodaria se O MUNDO soubesse que estou me casando com um adicto, pois isso é uma escolha minha, e sou eu que vou arcar com as consequências das minhas escolhas.

A única coisa que, de fato, me assusta é que as mesmas pessoas se incomodam tanto e possuem reservas para tratar do uso de drogas ilícitas, são as que não se incomodam nada com o abuso de bebidas alcoólicas.
Não percebem que tanto o dependente químico quanto o alcoólatra perdem a capacidade de dominar seu uso de drogas e álcool. Ele passa a ser dominado por essas substâncias...
Infelizmente não dá para negar que o mundo será cruel com o meu bem, mas ele está se preparando para isso. E por isso eu opto pelo silêncio, pela não exposição. Eu respeitarei seu anonimato, se essa for sua vontade.
Eu não quero vê-lo sofrer mais que já sofreu.
Sim, eles sofrem... Só quem já conviveu com um DQ é capaz de saber o quanto eles sofrem.

A dependência química é uma doença (CID 10) que se desenvolve devido a transtornos de personalidade de um indivíduo, e não uma opção de vida. É claro que a doença surge a partir de escolhas erradas do sujeito, porém, esse mesmo sujeito não deseja tornar-se um adicto e viver de forma auto-destrutiva. 

No blog da Poly, quando ela foi dar a entrevista, ela chegou a falar sobre os receios do esposo dela. E, infelizmente, ele está certo! (Leia: Amor pra mais de metro!)

"...Deixei meu esposo bem à vontade quanto a ficar ou não durante a gravação, e ele optou por ficar e por colaborar. Entretanto, em um determinado momento, receoso de que a moça que veio para cuidar das crianças estivesse ouvindo os seus relatos, ele não quis continuar.

Compreendo a sua reação, afinal existe mesmo muito preconceito. E ele é uma pessoa extremamente preocupada com a imagem, com o que os outros pensam ou falam a seu respeito. Entendo, mas acho que ele deveria esquecer um pouco dos outros, o que vale mesmo é o que ele é e ponto..."


Tenhamos mais cautela ao julgar uma situação, ou ainda, ao criar pré-conceitos...
Precisamos parar de focar nos defeitos ou erros cometidos e buscar o que de bom pode ser tirado daquilo tudo...
Como eu já disse em outros posts, eu agradeço a Deus todos os dias pela última recaída de meu amor, apesar de toda dor que me causou, pois foi através dela que eu renasci. Foi ela que me mostrou o quanto eu estava doente e infeliz. Iríamos juntos para o apartamento com ele vivendo daquela forma. E o desfecho seria infinitamente pior.

É preciso olharmos para nosso próprio umbigo e descobrir se a nossa vida é tão perfeitinha assim para termos o direito de pensar que "a criança é pirracenta", "a fulana vive bêbada", "ele é gay", "o cara já usou drogas", ou qualquer outra coisa.

Eu me esforçarei ao máximo para nunca mais chamar uma criança que não conheço de pirracenta!
Afinal, amanhã eu posso ter um filho autista!

Um grande e apertado abraço e fiquem com Deus!

domingo, 2 de setembro de 2012

Vinte e poucos dias...

Agora são 21:20h desse domingo...
Isso significa que já não estou mais junto de meu amado, amanhã cedo ele volta para a clínica. Significa também que já estou com saudades, e que a minha cama vai ser gigantesca hoje à noite!
Mas tudo bem, é por uma boa causa, e isso me conforta bastante!

Ele chegou exausto do Pico da Bandeira na quinta-feira, mas ao mesmo tempo muito empolgado.
Já havia subido em uma outra ocasião, e sempre frequentou muito o Parque do Caparaó, claro que acompanhado pela droga. Comentava que, apesar de ser uma paisagem maravilhosa, não voltaria nunca mais, pois é muito cansativo.
Mas acontece que ele voltou!
Disse que foi bem diferente das outras vezes que frequentou o lugar. Que foi emocionante. Fizeram uma espiritualidade lá em cima e depois, na pousada, partilharam sobre o que aconteceu. Muitos se emocionaram.
Percebeu-se diferente nos valores...

Ele agora está na fase que eles chamam de "desmame". Passa quatro dias em casa e três na clínica. Ficamos aqui até na sexta, e depois fomos para casa dele.

Tivemos bons momentos... Não fizemos nada demais, mas foi quase tudo perfeito.
Digo "quase tudo", pois meu bem teve pesadelos durante à noite, chegou a acordar chorando. Isso acontece eventualmente. Ele sonha que está usando drogas ou algo assim.
E, em um dado momento, quando eu estava no banho e a mãe dele dormindo, ele sentiu uma agonia momentânea muito grande lembrando das vezes em que chegou sobre o efeito das drogas naquela casa. Ficou aflito e sem chão...
"Quase bati na porta do banheiro te pedindo para sair logo..."

Senti uma compaixão tão grande naquele momento... E uma vontade enorme de abraçá-lo...
Graças a Deus essa sensação que o atormentou foi bem passageira.

Eu e meu bem desenvolvemos uma relação de cumplicidade muito forte.
Não sei se vou conseguir explicar bem... Mas nos tornarmos tão francos e verdadeiros um com o outro que é como se fôssemos "dependentes um do outro". Mas não no sentido doentio de uma relação, e sim no sentido de que estamos juntos na luta, e por isso devemos confiar muito um no outro para que possamos vencer a batalha.
Quando ele não vai à reunião, ele partilha comigo suas angústias ou alegrias!
Ou mesmo quando vai, sem eu pedir, ele geralmente me conta o que partilhou lá. Algumas vezes com detalhes, e em outras me fala de forma geral. Ele não me esconde o que está sentindo e eu também não escondo nada que me incomode ou me assuste.

Ele está meio angustiado sobre sua saída da instituição pelo fato de estar sem emprego. O terapeuta disse a ele que não se preocupe com isso, e que ele deve se concentrar em terminar o "Quarto Passo", que é o inventário pessoal, e um dos pontos principais do tratamento.
"O emprego cairá em seu colo se você fizer a coisa certa"
Tentei confortá-lo quanto a isso, afirmando a mesma coisa dita pelo terapeuta.

Faltam vinte dias para finalizar o período de internação.
Falamos sobre essa vinda dele para cá... Estamos muito ansiosos para começar nossa vida juntos e em paz... Seremos felizes...

Hoje eu passei o dia um pouco mal humorada (coisa de mulher), e por isso ele ficou o tempo todo implicando comigo,  rindo da minha cara e tentando me irritar. Confesso que até foi divertido!


Como eu já disse, me incomoda um pouco contar o tempo que ele está limpo (165 dias), pois sinto como se houvesse um prazo estipulado. Mas, estou aprendendo a pensar nisso com orgulho, pois dessa vez ele está limpo por ele mesmo, por sua saúde e por saber o que a droga fez com a vida dele, e não apenas para tentar "dar um tempo" limpo. Hoje sua mentalidade é outra.

Agora vou contar os dias que faltam para ele estar aqui comigo definitivamente. Certamente, a essa hora, em um futuro bem próximo, estaremos deitadinhos, assistindo Fantástico, ou outra coisa qualquer, nos preparando para a segunda-feira chegar...

Só por hoje meu amado está bem, limpo e feliz.
E essas foram minhas palavras ao pé do ouvido dele hoje à tarde pouco antes de eu vir embora:


"Amor, quando penso em nós dois, lembro de alguns momentos distintos... Lembro de quando nos conhecemos... Lembro de quando você voltou a me procurar, em 2010, e que até hoje não sei o motivo disso... Lembro de quando eu achei que tudo seria lindo pois você estava internado... Lembro de toda a dor que vivi... E agora lembro sempre da felicidade que estou vivendo com você..."