terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Behaviorismo

"Hoje eu já não quero mais ficar limpo só por mim. Hoje eu penso em você. Eu tenho muitas facilidades, você sabe... Sempre chego em casa mais cedo que você, tenho o carro da clínica, mas eu penso no quanto você iria sofrer, na sua dor, e resolvo não usar".

Essas foram as palavras que meu amor dirigiu a mim outro dia.

Essa semana fomos atender um cachorro da proprietária de uma clínica de recuperação recém inaugurada.
Ela é psicóloga e explicou como é sua linha de trabalho. Ele contou que também esteve internado.
E então ela questionou como está seu pós-tratamento e sua frequência nas reuniões.
Ele me olhou sorrindo e disse-lhe:
"Eu tenho ido sim, pelo menos umas duas ou três vezes por semana..."

Disparei a rir e o desmascarei!
A conversa foi descontraída e leve. Foi quase uma rápida seção de terapia entre nós três! E quando começou a apertar, ele fez de tudo para sair pela tangente!
Mas já havia levado um leve puxão de orelhas. (Diga-se de passagem: adorei! rsrsrs)
A semente foi lançada, se dará frutos de imediato ou não, não sei, e nem vou me desgastar com isso.
Ele sabe o que precisa fazer, então não cabe a mim ficar batendo na mesma tecla o tempo inteiro, até porque, quando fiz isso, só deu confusão!
Precisa partir dele a iniciativa de deixar de priorizar apenas o lado profissional e atentar também para esse Programa milagroso que salvou sua vida. E é isso que o padrinho dele cobra:
"Cadê sua gratidão por esse Programa?" 

Ele sabe que não tem sido grato. Resolveu focar em outra coisa: o trabalho!
Paciência!

Isso, a meu ver, é também nobre, até certo ponto!
Penso que seu patrão é um dos maiores alicerces em que ele se apoia para manter-se limpo.
Sua gratidão por ele é até invejável, às vezes até me dá uma pontinha de ciúmes (rsrs).
Esse homem lhe deu inúmeras oportunidades de emprego e de recuperação, mas meu amado jogou todas pela janela. Aprontou demais naquele hospital e, mesmo assim, as portas lhe foram novamente abertas.
Hoje meu amor tem retornos de seus clientes que o emocionam, e a mim também. Recebe inúmeros torpedinhos de agradecimento. E o patrão é louco por ele. E, por isso, meu amor voltou seu foco totalmente para o trabalho e coloca as reuniões em 2º plano!

Paciência...

É o caminho certo a seguir?
O Programa diz que não..
Mas quem sou eu para apontar os erros se está dando certo?

Ele não está frequentando como deveria. E quando vai, não consegue mais ficar centrado na reunião, sai com outros companheiros e fica de papo lá fora.
Às vezes me incomoda, mas ao mesmo tempo reflito:
"Ele está entre seus companheiros conversando coisas produtivas do mesmo jeito!"

Talvez eu esteja fechando meus olhos, talvez eu esteja no meu auto-engano...
Talvez, talvez, talvez...
Seja lá o que for, a recuperação dele NÃO depende de mim, depende apenas na BOA VONTADE dele!

Estamos felizes com nossa casinha, nossos empregos, nossa família, nossa cachorra e nossa gatinha!
E isso é muito importante.

Meu adicto sempre fala que nas terapias aprendeu muito sobre condicionamento da mente, e isso o ajudou muito, e ainda ajuda!

Vou falar um pouco sobre isso...


A Psicologia estuda diversas teorias sobre aprendizagem e aponta que algumas refletem no comportamento do individuo.
São as teorias comportamentalistas.

"Behavior" significa "comportamento", e o Behaviorismo  é um conceito generalizado que traduz as mais importantes teorias sobre o comportamento do individuo.

Surgiu com estudos de John B. Watson. Ele defendia o modelo behaviorista de S-R, que significa Estímulo-Resposta. O estímulo seria o incentivador do comportamento humano.
Trata-se do Behaviorismo Clássico, que acredita ser possível prever e controlar toda a conduta humana com base no estudo do meio em que o indivíduo vive.
Assim o organismo fornecerá determinadas respostas resultantes de um estímulo do meio-ambiente. Essas respostas provocam as manifestações do comportamento e a formação de hábitos.

Uma outra linha é a de Tolman, que trabalha em cima do sistema de aprendizagem.
É o Neobehaviorismo Mediacional. Está apoiada sobre as interações Estímulo-Estímulo – gerados nos mecanismos cerebrais.
Assim, para cada grupo de estímulos o indivíduo produz um comportamento diferente e, de certa forma, previsível. Há no comportamento uma intencionalidade, um objetivo a ser alcançado e uma intensa persistência na perseguição desta meta.

Com o tempo, o sentido de "Behaviorismo" foi sofrendo modificações, e hoje se entende que o comportamento é uma interação entre o ambiente (onde o "fazer" acontece) e o sujeito (aquele que "faz").



Nas terapias em que se deseja obter uma modificação comportamental, segue-se a linha Behaviorista, por condicionamento.

O DQ passou a vida estimulando-se ao uso da droga e arranjava meios quaisquer para obtê-la e saciar seus desejos, gerando assim uma resposta a esse estímulo. O que ele precisa, ao entrar em recuperação, é aprender a condicionar seus pensamentos e fornecer diferentes respostas aos estímulos antigos. Como quando eles, com suas mentes doentias, contam “historinhas” para si mesmos para justificar o uso.

Essa tem sido a tática de meu amor. Ele condiciona seus pensamentos e não cai no auto-engano!

Podemos usar essa metodologia em nossa recuperação também. Espero ter ajudado!
Beijo no coração!




quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O espelho virou meu amigo!


Boa tarde pessoal... Boa tarde de verdade...

Estou aqui, procurando renovar-me a cada dia, procurando renascer.
Florescer em todas as estações...

Depois da última postagem e dos retornos que recebi ontem, coloquei isso como meta na minha vida. E vou conseguir!

Fez-me muito bem desabafar daquela maneira. Eu sempre tive o hábito de fazer diários, onde eu conversava comigo mesma e com Deus, contudo isso ficava apenas entre mim e as folhas do caderno.
Então, resolvi escrever para vocês com a mesma intensidade que escrevia nos meus diários, e quando postei, dei abertura para me olharem intimamente, de saberem coisas sobre mim que, talvez, eu jamais tivesse coragem de dizer pessoalmente.
Acho que nem com minhas as amigas mais íntimas me abro assim. Até já tentei, mas a única amiga que era capaz de arrancar parte das minhas máscaras, que me conhecia só de ouvir minha voz ao telefone está morando longe.

Porém, na verdade, fico feliz comigo mesma, pois hoje tenho plena noção das minhas falhas, dos meus medos, fraquezas, insanidades, sintomas maiores de codependência. Hoje eu me conheço. Não sei se sei exatamente quem eu sou, mas pelo menos, já me conheço.
Acho que isso é um bom sinal, não é mesmo?

Hoje eu sei que tenho valor, e muito. Hoje consigo ver minhas qualidades e sei que sou boa pessoa. E sei também que não tenho as culpas que sempre achei que tinha.
O que eu preciso mesmo é aprender a lidar com meus conflitos, aprender a não potencializá-los. Preciso aprender a me impor (vixi... essa vai ser a parte mais difícil!)

O melhor de me expor, tanto no blog quanto no grupo do face, é o fato de descobrir que pessoas tão distantes fisicamente podem ter tantas similaridades em sentimentos.
Gostei muito das pontuações da Kel (obrigada, querida!).
Gostei também do conselho da minha cunhada:
“Fique em paz e passe a se olhar mais no espelho (e de preferência, com um belo batom!).”

Farei isso...

Quanto ao meu amor, estamos bem, graças a Deus.
A harmonia está sendo construída diariamente.
Ainda tenho inseguranças, claro, mas pretendo trabalhá-las também.
Ele não tem ido muito às reuniões, aliás, tem ido pouquíssimo, e isso me incomoda bastante, mas, não vou cobrar. A escolha é dele, não posso e não quero interferir.
A única coisa que posso fazer quanto a isso é deixar claro que não aceito mais aquela vida, e isso eu faço.
Minha preocupação maior nem é ele voltar ao uso de drogas, pois se um dia ele optar por isso, nada vai impedi-lo. Minha preocupação é com o fato dele se afastar do programa e apenas ficar limpo, e não mais em recuperação.

Um dia o padrinho dele falou fazendo piada (mas também puxando as orelhas):
“Ah... Quando ele usava drogas, por acaso fazia isso só uma vez por semana? Então porque só vai ao grupo uma vez?”

Meu amado leva a vida de maneira muito leve, aliás, leve até demais. Faz piada de si mesmo, de mim, do mundo e até de sua doença. Contudo, algumas vezes gostaria que ele levasse a vida um tiquinho mais a sério. Principalmente em relação às reuniões.
Mas acho que viver assim está fazendo bem a ele, pois sempre viveu escondendo-se do mundo e de si mesmo.
Os pesadelos com drogas são quase raros, o sono dele está bem mais sereno e já não toma mais remédios para dormir.

Assim como eu, ele tem uns rompantes de (mal)humor, mas isso tem sido menos frequente. Graças a Deus! Acho até que no momento ele está muito mais centrado que eu! (rsrs)

Ele está limpo há 308 dias. Nossa... Como o tempo passou rápido! Parece que foi ontem...

Enfim...
A vida precisa mesmo ser vivida dia a dia.
Assim damos mais valor ao presente e aprendemos a sofrer menos com o passado e a não nos preocupar com o futuro, e se temos fé, aprendemos a entregar nas mãos do Poder Superior.

Sentir o perfume das flores que eu vejo no meu jardim hoje.
Amanhã outros perfumes virão, e talvez, outras flores também...

Felicidades a todas.
E, para aquelas que, assim como eu, ainda possuem muitos conflitos internos, procurem olhar-se no espelho.
Estou começando a fazer isso! Eu mereço!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

- Minhas máscaras -

Segunda-feira, 21 de janeiro de 2013...

Eu não consigo...
Não sei para onde olhar, nem para onde ir...
Um turbilhão de sentimentos e pensamentos me dominam. Borboletas batem as asas dentro do meu estômago o tempo todo...

Tudo (ou quase tudo) aquilo que sonhei e pedi a Deus está aqui, diante de mim, mas eu não consigo!
Estou confusa...
As flores estão na minha janela, mas eu não sou capaz de apreciar o perfume delas.

Hoje não quero falar da adicção do meu amor. Isso não tem sido mais minha angústia há algum tempo, graças a Deus. Aliás, hoje completam-se 10 meses que ele está limpo, e desejo que esses 10 meses se multipliquem sempre. Quem diria... Antes eu ficava feliz ao perceber que ele permanecia limpo por 10 dias...
Mas não quero falar disso. Hoje não...

Preciso de ajuda...

Hoje eu preciso falar de mim. Desabafar da forma que nunca fiz...
Sou boa em ouvir e dar conselhos, mas não sou boa em colocar para fora aquilo que me atormenta, que me assombra, que me machuca...
Preciso falar de mim...
Acho que nem na terapia consigo colocar para fora todos os meus sentimentos.

A terapia, vou começar falando disso.
Iniciei a terapia em fevereiro de 2007, após o término de um relacionamento tumultuado, cheio de idas e vindas.
Ele era mais novo, de família muito pobre (muito mesmo), morava no morro, e no início trabalhava como office-boy. E eu já era pós-graduada, tinha um bom emprego e morava num bairro nobre. Eu fui capaz de tudo para ajudá-lo a melhorar de vida. Paguei cursinho, faculdade, ajudei na reforma da casa dele, enfim... Codependência pura, e olha que eu nunca havia ouvido falar disso.
Em troca recebi mentiras e traição. Ganhei uma depressão profunda e muita dor.

Foi meu primeiro fundo de poço emocional, e achei que esse era o maior de meus problemas.
Estava enganada.
Aos poucos fui descobrindo o que realmente me atormentava...

Minha infância foi muito cheia de turbulências. Cresci vendo meus pais brigarem o tempo todo, minha mãe dando a alma para sustentar a casa, trabalhando em três horários, e meu pai sempre enrolado, fazendo tudo de forma atravessada e jogando dinheiro fora. Durante todo o tempo da faculdade, que cursei em outro estado, ele nunca me mandou um real sequer. Nunca tinha nada!

Meu relacionamento com minha irmã, nunca soube explicar o porquê, sempre foi cheio de conflitos. Ela é dois anos mais velha e desde que me entendo por gente, sempre tivemos brigas feias, saíamos no tapa quase que diariamente. Ela não me deixava brincar com ela; não queria que eu fosse junto pra escola; não tirava minhas dúvidas nas tarefas de casa, mas ensinava as outras crianças da rua; não gostava que eu fosse falar com ela no recreio; quando éramos adolescentes ela não me chamava para sair; durante o tempo que morei fora, ela me ligou uma única vez: para brigar comigo por causa de uma saia; me chamava de 'doida' pelo fato de eu ter que tomar remédios fortes para as crises de enxaqueca, que me acompanham desde os 10 anos, e ela dizia que era frescura.
Eu era muito magrelinha e branquelinha quando criança, e alguns meninos da rua implicavam muito comigo, atribuindo-me apelidos maldosos.
Eu chorava, devia ter entre 6 e 8 anos. E não era capaz de compreender porque ela não me defendia!
Eu achava que ela não gostava de mim...
Cresci sentindo-me culpada por ter nascido, achava que havia atrapalhado a relação dela com os meus pais.


Até hoje nossa relação é esquisita, contudo, ela tenta se aproximar, mas eu criei um bloqueio, e simplesmente não consigo. Às vezes sinto-me mal por isso, mas ao mesmo tempo, com a terapia, consegui perceber que sou humana e a relação sólida de amizade que poderia ter existido entre nós não aconteceu...

Mas confesso que isso ainda dói um tiquinho!
Passei anos tentando entender os motivos pela qual ela me tratou assim na fase da minha vida em que eu mais precisava da proteção dela. Pensei em ciúmes e em várias justificativas, mas percebi que não caberia a mim descobrir.


Com a terapia, as máscaras que eu usava para me esconder sei lá de que foram caindo.

Lembro-me de um exercício dificílimo que a psicóloga me passou e que eu custei a conseguir fazer: eu tinha que anotar 3 qualidades minhas por dia!!!
Caraca... Eu não enxergava que eu tinha qualidades! Apenas as qualidades dos outros me importavam.


Eu sempre prestei muita atenção nas qualidades de quem está ao meu redor. Nunca fui de ficar apontando defeitos, e sempre acreditei que as pessoas são boas.

A vida inteira eu tentei agradar os outros, tentei cuidar, ser uma boa amiga (e sou!), uma boa filha (sempre fui também, e ainda sou), boa irmã (acho que fui, apesar de tudo...), uma boa professora (também sou!). Mas eu nunca pedi a ninguém que fosse bom para mim.

Ser boa para os outros já me era suficiente. Eu não precisava de retornos.
Ouvi tantas vezes na infância que eu não era ninguém, que passei a vida me escondendo e cuidando de quem eu percebia que poderia cuidar.


A terapia, atrelada a fé que deixei despertar em mim, me fez ver que eu sou digna de receber coisas boas. Que eu sou merecedora da felicidade, e que tenho muitas qualidades.



Na postagem Mentiras e Verdades, eu falei do que vi na Convenção Carioca de NA no ano passado. Lá eu percebi que sou uma pessoa muito abençoada por não ter me envolvido com drogas, pois elas seriam uma excelente fuga para mim, ou seja, eu tinha a faca e o queijo na mão para tornar-me uma adicta!

Seria tudo o que eu precisava para fugir dos conflitos que me atormentavam.
Quantas vezes desejei um abraço e não recebi.
Desde a infância, e até hoje...


Mas eu ainda não consegui retirar todas as máscaras.

Eu ainda me escondo não sei de que. Talvez de mim mesma.
Olho para mim e tento descobrir o que eu quero, o que eu posso achar que está faltando. 
Às vezes me pergunto se eu sei quem eu sou...
Mas não tenho resposta para nada.


Há dentro de mim um vazio de um tamanho que não sei descrever.

A felicidade está aqui na minha vida.
Tenho uma mãe maravilhosa, uma família estável financeiramente. Tenho amigos abençoados e verdadeiros que Deus, para suprir a ausência da minha irmã, me presenteia sempre. Tenho casa própria, graciosamente mobiliada. Tenho um bom emprego, sou muito realizada profissionalmente. Tenho uma cachorra, uma gata e meu amor sem as drogas. Tenho fé e humildade.
E tenho a felicidade aqui comigo, mas não consigo deixá-la me dominar.


Algo dentro de mim me impede de seguir.

Eu simplesmente não consigo me permitir viver a felicidade, apesar de senti-la aqui.
É tudo muito estranho. O perfume das rosas não chega até mim.


Há algum tempo eu detectei minha enorme fragilidade emocional. Não tenho domínio sobre o que sinto. Hoje eu detecto os sinais de quando vou explodir, mas não sou capaz de conter a explosão.

Preciso de ajuda.
Preciso de colo.
Preciso de um abraço, de alguém que me diga que tudo ficará bem...


Sou ótima ouvinte e conselheira, mas não sei pedir colo quando estou frágil. Foram raras as vezes que consegui fazer isso.

Estou com medo de não conseguir ter sabedoria o suficiente, ou de não ter mesmo domínio sobre essas angústias e jogar essa linda história de amor ao vento.
Muito medo!
Insegura...


Não sei deixá-la me dominar, inundar o meu ser.

A felicidade está aqui.
Do que mais eu preciso? Deus me deu absolutamente tudo que desejei, mas não estou sendo grata...
Tenho medo de meu amor cansar, dele simplesmente não saber lidar com isso.
Tenho medo de escuro. De não conseguir retirar as máscaras.

Estou me sentindo triste e muito sozinha.

Eu me escondo o tempo inteiro, de tudo, de todos...

Não quero mais isso.
Mas não sei o rumo a seguir, não sei para que lado olhar.


Será que esse monte de conflito existe em outras pessoas também?


Eu voltei para a terapia e desejo conseguir retirar as máscaras, antes que seja tarde...



sábado, 19 de janeiro de 2013

Sinais...

Como saber se as coisas estão mesmo bem?
Como saber se ele vai voltar para casa?
Como saber se ele não está nos manipulando?
Como saber se ele não vai mesmo recair?
Como saber se ele não vai sumir com o carro?
Como saber se ele está mesmo no propósito de não mais usar?
Como saber se voltaremos a viver na tempestade?
Como saber se somos mesmo importante para eles?
Como saber se ele tomou, verdadeiramente, a decisão?
Como saber tantas outras coisas?
...

Sinto muito, pessoas, mas não tenho como responder nenhuma dessas questões.
Sinto muito mesmo...
A única coisa que sei é que precisamos tentar ler sinais.
Logo que ele saiu da clínica, certo dia eu liguei para o celular dele quando cheguei em casa e caiu direto na caixa postal. Liguei de novo e ele recusou a ligação, mais uma vez e... de novo...
Meu Deus...
Estremeci por inteiro. Meu corpo anestesiou. Senti o chão se abrir. Surtei, literalmente...
Mas, dentro de dois minutos, ele retornou.
"Eu estou saindo da casa de uma cliente antiga, aqui perto... Vim visitá-la e dizer que voltei a trabalhar aqui... Não dava para atender..."

A essa altura eu já estava chorando...
Ele ficou aborrecido com isso e reclamou.
Mas as coisas estavam muito frescas ainda, eu ainda não me sentia segura.
E então ele voltou a trabalhar, e para meu desespero foi em regime de plantão noturno e de fim de semana.
O hospital ficava ao lado de um bar bem badalado aqui no bairro.
Achei que iria pirar! A primeira noite dele trabalhando eu passei em claro!
Rezei! Mas já não era uma oração desesperadora como vinha sendo na época da ativa.
Foi então que descobri que estava aprendendo a entregar de verdade nas mãos Daquele que é o único que pode fazer algo: Deus!

De lá para cá muita coisa mudou em relação a essas minhas inseguranças.
Comecei a praticar, diariamente, o exercício de repetir a mim mesma:
"Não depende de mim... A escolha é APENAS dele. Só depende da BOA VONTADE dele!" 


Com o tempo, alguns medos foram saindo de mim.

Hoje eu já me sinto bem mais segura.
Eu sempre ouço a voz de Deus falando comigo em gestos ou palavras soltas que vejo, leio ou escuto no dia a dia.
Sou completamente atenta aos sinais que Deus me envia. Treinei minha fé para isso, mas foi um trino bem suado e difícil!

Ele não perdeu o hábito da manipulação. Na verdade, acho que eles NUNCA vão perder isso. São verdadeiros artistas.
Mas hoje a manipulação é com outros fins.
Para fazer as pazes após uma discussão boba, por exemplo... Ou para justificar que teve que voltar ao hospital de noite só para dar alta a um cachorrinho, mas que aconteceu um imprevisto e teve que fazer outro atendimento. E, na verdade, está quase óbvio que isso já estava programado, mas faço ele pensar que acreditei. E ele fica feliz!
Na maioria das vezes, me faço de boba, e é minha vez de manipulá-lo, e finjo que não estou percebendo.

Levo uma vida normal ao lado do meu adicto. Minha única limitação hoje é em relação a vida social, que não é tão intensa, mas isso não é sacrifício para mim, pois antes de estarmos juntos eu já andava meio sem paciência para as noitadas. Passei da fase!
Quando aceitamos viver ao lado de um DQ precisamos estar cientes de que teremos certas limitações.

Eu, particularmente, não tenho mais estrutura física e psicológica para viver com ele se ele resolver voltar para a ativa. E ele sabe disso, e sempre me diz que se um dia recair eu devo deixá-lo, pois ninguém merece viver ao lado de um DQ que não queira parar de usar.

Quando aceitei viver com ele, mesmo depois de tudo que passei, me proibi a viver de forma insana,  ou seja, não fico preocupada se ele vai tirar algo de dentro de casa, se ele vai voltar quando tem que sair sozinho, se ele vai querer usar, e coisas assim.
Acho que isso é desligamento!

Hoje meu corpo não treme quando ele não atende o celular, pois sei que é porque está em atendimento ou em cirurgia.
Hoje sei que ele estará em casa quando eu chegar, e se não estiver, é porque deu um pulinho no hospital, que é pertinho de nossa casa.
Quando ele demora um pouco mais, eu apenas peço a Deus que cuide dele. Só isso!
Hoje não tenho medo de deixar o dinheiro diariamente para ele comer alguma coisa. E ele, assim que recebe algum dinheiro, seja qual for o valor, me avisa imediatamente, e assim que chego em casa ele me entrega.

A medida que o tempo passa, respiro mais calmamente.
Percebo que meu pensamento não está 24 horas por dia focado no fato dele voltar ou não para casa, porque simplesmente sei que ele voltará.

Mas a caminhada até aqui foi longa, e em nenhum momento perdi a fé e a esperança, mas precisei me convencer de que manter-se limpo só depende da boa vontade dele!

Resolvi voltar para minha terapia, mas dessa vez, foi por mim mesma, pois sei que ainda tenho muito a melhorar.
Tenho medos a perder, principalmente o medo da felicidade, que sempre me atormentou.
Sei que erro bastante e às vezes vejo coisas que não existem, não mais em relação a doença dele, mas em relação a mim mesma.
Resolvi voltar para tratar meu anseios e fraquezas. Minha codependência.
E, principalmente, para não ser permissiva com o mundo, como sempre fui.
A vida inteira permiti que pessoas que eu amo me magoassem, e "deixei pra lá" para não piorar as coisas, até que um dia um Padre segurou firme em minha mão e me disse:
"Minha filha, não confunda ser boa com ser boba. Você está sendo boba!"

Nunca mais esqueci isso! Então, acho que está mais do que na hora de colocar em prática o fato de deixar de ser boba!


19 de janeiro: leitura do "Só por hoje"

"Quando paramos de viver aqui e agora, nossos problemas são aumentados exageradamente."

"Alguns de nós parecem fazer tempestade de um copo d'água com nossos problemas. Mesmo aqueles de nós que encontram alguma serenidade, provavelmente, em algum momento de nossa recuperação, colocam algum problema totalmente fora de proporção -  e, se ainda não o fizemos, provavelmente logo faremos!..."

Só por hoje: eu terei uma visão realista de meus problemas e verei que em sua maioria são pequenos. Eu os deixarei assim e apreciarei minha recuperação.



Desejo força e fé àquelas que estão em turbulência.
Desejo paz e amor. Além de escolhas certas.
Desejo que aprendam a ver os sinais.

Forte abraço!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

300 dias!


No meu dia a dia tenho demonstrações nítidas do imenso amor de Deus por mim.
Ele fala comigo através das pessoas nos momentos em que eu mais preciso ouvir. Ele atende minhas orações e me dá livramentos.

Por exemplo, foi muito difícil passar pelo que passei no início do ano de 2012, mas vejo o quanto Deus cuidou de mim naquele momento. Por mais que a dor tenha sido imensurável e indescritível, se meu amado não tivesse feito comigo o que fez, íamos morar juntos no apartamento com ele completamente na ativa. Eu estava vivendo naquela ilusão de que somente eu poderia ajudá-lo. Tentei protegê-lo colocando-o embaixo das minhas asas, mas lógico que não funcionou.
Deus não queria minha dor, claro que Ele não planejou nem desejou que eu vivesse aquele pesadelo. Ele me mostrava, mas eu me recusava a ver. A permissão de passar por aquilo tudo foi minha, não de Deus. Então o freio para deixar de viver daquela forma veio da pior maneira possível, mas funcionou.
Abri meus olhos!

Naquele dia, havia um anjo comigo, que segurou em minhas mãos o tempo inteiro, cuidou de mim e me fez raciocinar, e eu agradeço tanto por isso.
Deus coloca anjos no meu caminho sempre que estou em apuros.

Na grande dificuldade de relacionamento que tenho com minha irmã, Deus cuida de mim colocando em meu caminho amigos que são verdadeiros anjos. Sou abençoada em minhas amizades. Sei que tenho ao meu redor pessoas que em amam e que posso contar sempre.
Contudo, naquela época, fiquei completamente sozinha, desnorteada. Algumas amigas haviam se mudado para outro estado e outras não sabiam como lidar com a dependência química e optaram por afastar-se. Essa postura delas doeu, mas em todo momento compreendi e respeitei. Talvez, se eu não estivesse na situação, se fosse com uma amiga minha, eu também agisse da mesma forma. Ainda hoje acho que elas preferem manter certa “distância de segurança”, acho que ainda não aceitam minha escolha. Sei não...
Mas Deus trouxe outros anjos. Anjos esses que conheciam o problema, que não me julgariam, mas que me mostrariam a realidade da adicção na fase ativa e na fase da recuperação.

É o imenso amor de Deus por cada um de seus filhos!

E, a única maneira que tenho de retribuir-Lhe, é tentar fazer esse papel de anjo na vida daqueles que estão precisando.
Cuidar do outro sempre foi algo que muito me satisfaz, porém, eu achava que cuidar era colocar o outro em uma redoma de vidro, assim ele estaria protegido. Agora eu aprendi a cuidar da forma certa. Descobri que eu tenho que mostrar-lhe a realidade da vida, e isso será uma grande demonstração de amor.
Estou aprendendo a cuidar da forma que Deus quer que eu cuide.

Hoje me sinto tão feliz com a vida que estou levando. Tenho tanto a agradecer, tanto por mim quanto pela sobriedade de meu amor, pelo relacionamento dele com minha mãe, com a mãe e com a irmã dele. Por tantas coisas...
Se eu pudesse, gritaria ao mundo.
Se eu pudesse distribuiria flores.

A vida do meu amado é um milagre, e é também uma prova da demonstração do amor de Deus por seus filhos. Ele é outra pessoa.

Hoje completam-se 300 dias que ele rendeu-se e desistiu completamente, que ele abandonou a luta, como mencionei no post anterior.
300 dias que ele percebeu que não dava mais, que não tinha como “usar só mais um pouquinho”.
300 dias que ele optou pela vida, e saiu das trevas, do pesadelo em que vivia.
Só por hoje...
Só por hoje ele tem 300 dias de renascimento.

Como não agradecer a Deus?
Como não retribuir-Lhe apenas fazendo pelos outros o que Ele fez por mim?
Como posso pensar em não ser feliz ao lado dele, independente das escolhas que ele teve no passado?

Só por hoje, viva e deixe viver.
Ótimas próximas 24 horas para cada um!

domingo, 13 de janeiro de 2013

A ficha amarela

Hoje é um dia especial, muito especial...

Hoje eu senti o aroma das flores ao meu redor. Hoje senti a primavera.
Só por hoje... A primavera está aqui...

Ontem a Poly postou no face sobre o valor que aprendemos a dar aos "dias normais". Certamente eles são muito especias, e ouso até a dizer que são sagrados.
Tenho vivido dias normais há algum tempinho e agradeço muito a Deus por eles.
Nada no mundo paga o preço de saber que ele está em casa esperando por mim, ou de saber que se ele não está, vai chegar loguinho. Nada paga o preço de não ficar naquele desespero quando ele não atende o telefone, de saber que está feliz na nova vida, de saber que honra seu trabalho, que o dinheiro que deixo todos os dias não será usado com drogas.

Não que os fantasmas não o assombrem mais, ele fala pouco sobre isso, mas sei que ainda é latente dentro dele.

Na reunião de hoje, um garoto de 22 anos partilhou sobre esses tais dias normais, na verdade, suas partilhas são sempre nesse sentido. Ele é sempre sorridente, e demonstra uma tremenda felicidade por ser quem ele é hoje.
"Caraca... Ontem eu estava lá em casa, deitado na minha cama de casal, vendo minha TV de 32 polegadas... rsrsrs... Caraca... Isso é muito bom... E de madrugada começou a chover, fui até a janela e falei 'Que maneiro, tá chovendo! Obrigada, meu Deus!'. Mas se eu não ficar esperto eu volto para a rua, na chuva e vou usar!"

Dias normais...
Abençoados dias normais...

Limpo e sereno há exatos 298 dias - 9 meses e 23 dias.
Hoje ele recebeu a iluminada ficha amarela, de nove meses.

Seu padrinho falou algumas sábias palavras, como sempre.
Falou sobre a importância de ser grato ao Programa de NA, que nada deve ter mais valor na vida dos adictos que estão vivos por terem conhecido esse Programa.
Disse ainda que quando eles deixam de centrar-se em sua recuperação e valorizam apenas os entornos de suas vidas, já é um sinal de que a gratidão por NA deixou de existir.

Palavras dele:
"Eu cheguei a um grau de conhecimento desse Programa tão profundo, que achei-me superior a ele. Achei que não precisava mais dos companheiros da sala, que eu era melhor que eles. Foi então que cheguei ao meu segundo fundo de poço, dentro de uma cadeia... E ninguém foi me tirar de lá, foi esse Programa que me salvou mais uma vez... Como não ser grato a isso?"

Meu amor recordou de quando iniciou o uso, aos 13 anos.
"Nunca, em toda minha vida, fiquei esse tempo todo limpo... Hoje eu já consigo entrar no banheiro da casa da minha mãe e no meu antigo quarto sem aquele desconforto, pois eram meus lugares preferidos de uso... Prestei atenção em cada palavra dita nas terapias durante o tempo que fiquei naquela clínica, e aprendi sobre condicionamento..."

Ele estava emocionado, as mão estavam trêmulas, a ficha amarela ficava girando entre os seus dedos, a voz saia engasgada. Acho até que as lágrimas ameaçaram brotar.
Ele agradeceu ao padrinho e aos companheiros de sala.

A leitura do Só Por Hoje do dia 13 de janeiro fala sobre a rendição. Que render-se é desistir completamente, abandonar a luta sem nenhuma restrição.
Desistir e abandonar às drogas!
"A ajuda aos adictos só começa quando somos capazes de admitir a completa derrota"


Só por hoje, desejo que sejamos felizes e aprendamos a nos libertar da dor da co-dependência.
Só por hoje desejo que àqueles que ainda não desistiram e se renderam a uma nova vida, façam isso a tempo de desfrutar das flores da vida.
Só por hoje, desejo coisas boas...

Bom restinho de domingo e um ótimo início de semana...




terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Só por hoje, pense em você!


Ei pessoal, bom dia!

Desejo coisas boas e paz.
Estou orando muito por nós, companheiras de DQs, por nossos amados adictos e por aqueles que agora estão nas ruas sofrendo e usando.
É tudo tão complicado, difícil e sofrido. É tudo tão instável.
A mente deles é muito doentia, e o fato deles assumirem isso já é um grande passo. Se eles não permanecerem no propósito de recuperação não conseguirão se manter limpos. Se eles não assumirem sua doença também não conseguirão.

Um adicto, para firmar-se na recuperação, jamais poderá uma vida social “normal” dentro dos padrões da sociedade. A vigília deve ser eterna. Não dá para ficar limpo por muito tempo frequentando boates e baladas, por exemplo, ou tomando uma cervejinha de vez em quando.
Como diz o NA:
“Evite hábitos, pessoas e lugares da época de ativa”

Meu amor às vezes me explica como funciona o autoengano, como eles começam a contar historinhas para si mesmos para justificar os motivos que os levam ao uso. Há um leão feroz dentro deles dormindo, bem quietinho, um monstro, que se for despertado voltará a atacar.

Ele segue bem, limpo e sereno há nove meses e dezoito dias (293 dias corridos!).
Estamos vivendo uma lua de mel, graças a Deus. Cada dia mais carinho e amor.
Mas sei que o programa não promete, nem a mim e nem a ele, que será para sempre, ou seja, amanhã a escolha dele pode ser outra. Por isso eu entreguei por completo.
Ou seja, já que me permiti a viver aquele sofrimento todo, precisei aprender a tirar algo de produtivo em toda aquela situação.

No nosso caso, deu certo e está dando certo. Mas para isso o passado foi obrigado a ficar mesmo no passado. Uma pedra foi colocada em cima de tudo. Cartas e diários foram queimados.
E assim estamos conseguindo. Juntos.
É claro que torcemos para que a primavera permaneça entre nós, que os dias de inverno não retornem, mas se ele não decidir, verdadeiramente, por continuar a viver essa nova vida, certamente os dias de tempestade voltarão a surgir.

Nos dias inicias de sua internação, vivi o meu luto. Sofri, chorei, isolei-me, adoeci. Mas foi uma fase necessária para mim.
E depois desse luto, durante o tempo em que ele permaneceu lá, buscando sua recuperação, eu também fiz a mesma coisa aqui fora, procurei aprender a controlar a minha codependência. Passei a orar mais por mim, por minha serenidade e sanidade.
Consegui modificar meu olhar sobre a situação. Enxerguei claramente que eu precisava mudar certas posturas e que não posso controlar a recuperação dele.

Em relação a ele, eu apenas pedia a Deus que incomodasse o seu coração e que fizesse o melhor.
Só isso!

Infelizmente eu só aprendi a viver com ele depois que passei por situações que não desejo a ninguém, da pior maneira possível, mas quando olho pra trás, vejo que foi extremamente produtivo.
Mas não foi fácil, nada fácil. Tive que aprender a olhar mais para mim mesma. Tive que aprender respeitar meus limites e os dele também. Tive que aceitar suas limitações.
Tive que me afastar de quem eu amo para ser capaz de ajudá-lo.

Viver feliz ao lado de um adicto é possível.
Algumas de nós, companheiras de dependentes químicos, têm estrutura psicológica para ser feliz ao lado deles na ativa, vivendo, literalmente, o Só Por Hoje. Eu não conseguiria mais, mas respeito muito e admiro as que possuem essa força e controle emocional para lidar com isso.

E viver MUITO FELIZ ao lado de um adicto em recuperação é mais possível ainda.
Hoje, há entre nós dois uma cumplicidade que é difícil encontrar por aí, e sei que muitas de vocês também possuem essa relação.
Não há mais segredos, máscaras, fingimentos. Não vamos dormir sem resolver as coisas. Não saímos de casa sem dizer “eu te amo!”.

Mas como saber se ele está rendido ao tratamento?
Como saber se ele não está nos manipulando novamente?
Como saber se dessa vez vai dar certo?
Como saber se ele não vai sair para usar na primeira oportunidade que tiver?
Como saber se os dias de primavera chegaram?
Ou se ainda estamos no outono? Ou no inverno?
Como saber tantas coisas?
São tantas perguntas... Tantas dúvidas...
E não há respostas.
A única coisa que sabemos é que às vezes é necessário nos afastarmos, apesar da enorme dor que isso nos causa.
Mas por quanto tempo?
Sei não!
Não temos controle sobre nada quando se trata de dependência química.
Não há fórmulas mágicas nem regras gerais sobre como devemos agir.
Podemos apenas entregar e confiar!
Fiquem com Deus!

Pensem nisso! Concentrem-se em si mesmas!
Só por hoje pense em você.
Procure descobrir o que te deixa feliz e vá em busca disso.
E boas próximas 24 horas.


Forte abraço florido!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

As lindas palavras de Drummond para você!

Oi pessoal!

Tudo em paz, muito em paz por sinal. Graças a Deus!
Acho que conseguimos entrar em sintonia. Todos os desajustes estão, finalmente, sendo ajustados.
Estamos conseguindo aprender a identificar e compreender os limites do outro e isso está sendo maravilhoso.

Nosso amor é muito grande e cresce a cada dia!
É uma pena que não é possível descrevê-lo.

Não teria mais estruturas para viver com ele se estivesse na fase ativa. A dor era muito grande, eu já não tinha mais forças. Eu o amaria de longe...
Mas ele escolheu mudar de lado, resolveu lutar pela única coisa que ainda lhe restava, que era sua vida. E eu não me arrependo por nenhum segundo sequer de ter esperado pela transformação.

Sim, é possível ser feliz ao lado de um dependente químico.


Hoje gostaria de falar sobre opiniões equivocadas referente ao uso de drogas.

O uso abusivo das drogas psicotrópicas está, muitas vezes, associado à marginalidade, à pobreza ou situações similares. Além disso, a sociedade só enxerga como um problema quando o usuário chega a estágios de vida deploráveis. Quando vemos na TV reportagens como a que passou hoje no Bom Dia Brasil, que mostrou as cracolândias de SP, somos levados a pensar que ali só existem pessoas das classes baixas da população, o que é um tremendo engano.

Meu amor veio de uma família de posses e estruturada, assim como muitos de seus amigos.
Geralmente ele fazia uso de sua droga de escolha em motéis, mas também já chegou a ficar na rua bebendo cachaça com carroceiros, quando já não tinha mais dinheiro.

Só para explicar:
Para quem não sabe, ir para motéis é extremamente comum entre os usuários que possuem condições financeiras para isso. Eles vão para lá por causa da privacidade. A polícia não irá pegá-los nesses locais. Alguns motéis, inclusive, oferecem as drogas. E, caso não tenham dinheiro para pagar a conta, penhoram sons de carro, estepes, e afins.
Não sei o que é pior, o adicto fazer isso ou os motéis aceitarem! 

Será que se alguém passasse e observasse a cena pensaria que um daqueles indivíduos era um médico veterinário? Duvido!
Será que algum dos outros carroceiros também, num determinado momento de sua vida, não chegou a ter casa, família, filhos, emprego? Vai saber...

O fato é que é mais cômodo a todos nós pensarmos que estamos imunes a esse tipo de problema.
"Isso nunca vai acontecer na minha família!"

Fechamos nossos olhos mesmo quando o problema está diante da gente.
Veja só alguns exemplos de pessoas que passaram pela mesma instituição que meu bem e hoje são seus companheiros de sala de NA:
- O filho do proprietário de uma empresa de manutenção de cascos de navio, e que trabalha na empresa do pai (saiu de sua casa num bairro nobre e foi morar no morro com os traficantes);
- Um professor de educação física, cuja mãe é uma psicóloga;
- O filho do proprietário de uma empresa de instalações elétricas, que também trabalha com o pai;
- Um jovem que hoje toca na banda da igreja;
- Um advogado;
- Um jovem proprietário de uma empresa de fechamento de varandas;
- Um funcionário efetivo da Assembleia Legislativa do Estado;
- Um cantor famoso do Rio;
- Um jovem filho de uma família tradicional de nossa cidade (e esse chegou a tomar conta de carros na rua!);
E tantos outros que fogem a regra da classe social.
Eu mesma, antes de estar envolvida com um dependente químico, talvez pensasse assim também.

O uso de drogas, principalmente o crack e a cocaína, há muito tempo, já atingiu todos os berços da sociedade.

Mas há, além da epidemia do crack, algumas outras situações me assustam bastante. Situações essas que, por serem consideradas normais perante a sociedade, são mais dificilmente percebidas pelas famílias.

Muitas pessoas que estão vivendo em função de medicamentos controlados, como anfetaminas, ansiolíticos, barbitúricos, anestésicos, e outros, sem perceber ou assumir que já caíram na dependência química. Casos comuns com profissionais da área de saúde. 

E o álcool, é claro, que, para piorar tudo, é associado ao bom convívio social. O que é muito triste!

É claro que não estou aqui para julgar às pessoas que bebem socialmente, não posso ser hipócrita. Sei que tem gente que realmente bebe uma cachaça, vinho ou uísque para degustar e apreciar a bebida.
Sei também que tem muita gente que bebe para se divertir sem ser alcoólatra.

Lembro-me bem das minhas épocas de faculdade, quando eu nem sonhava conhecer a palavra adicção, quantos porres eu tomei... Quantas festas regadas à bebidas. Como se a única possibilidade de diversão estivesse associada a uma cervejinha! E ainda recentemente, com meu grupo de amigas, não era raro saímos para nos divertir um pouco com nosso tradicional brinde de tequila!
Hoje não tenho mais esse olhar, e optei por não beber mais.

O que mais me assusta é o caminho que essas diversões podem levar.
É o fato de, muitas vezes, estar nítido à todos que determinada pessoas está vivendo em função de medicamentos ou bebidas, mas encarar isso como sendo algo normal!

Como trabalho com adolescentes, vejo isso todos os dias.
Cansei de ouvir conversas de meus alunos onde eles planejavam as baladas regadas a bebidas e depois comentavam os porres uns dos outros...
Muitas vezes também escutava as histórias dos meninos que eu dava aulas particulares (todos da classe alta de minha cidade), onde eles contavam cheios de orgulhos sobre o que fizeram de extraordinário no fim de semana anterior. Eles estão começando cada vez mais cedo a ter contatos com álcool, drogas e medicamentos.
Esse ano, um aluno meu da faculdade, matou dois idosos por estar dirigindo embriagado.

Muitos desses jovens, certamente se tornarão alcoólatras ou irão desenvolver a doença da adicção.
Esses dias passamos pela clínica e uma mãe estava chegando com o resgate para transferir o filho de 15 anos, sob ordem judicial, para uma instituição fechada!

Quando o uso perde o controle e todos ao redor notam que existe um problema com aquele indivíduo, geralmente ele é visto como um malandro que só faz besteiras e que está nisso porque quer!

As pessoas se recusam a vê-lo como um doente!
É tudo muito difícil e complicado de se lidar, então é mais fácil julgar!!

Mas quando estamos engajados em sua recuperação, precisamos estar conscientes de que não há nada que possamos fazer por eles, além de entregar nas mãos de Deus, já que a decisão de parar de usar deve ser DELE e de ninguém mais. Ele tem que enxergar-se como um doente. Ele tem que ver que não dá mais para continuar assim. Ele tem que optar pela vida.

Mas há uma luz no fim do túnel.
Se essa decisão vier, o dependente pode sim ter uma vida normal, pode ser feliz e fazer alguém feliz. Seja ele usuário de cocaína, álcool, medicamentos e até mesmo crack!
Porém, mesmo depois que entram em recuperação, que reparam os erros, que voltam a ter a sonhada vida normal, eles sempre serão cobrados por suas atitudes do passado. Como se nunca fossem capazes de seguir novos rumos.

É o tal do preconceito de quem se recusa a enxergar o dependente químico como um doente e prefere vê-lo como aquele malandro que entrou nessa porque quis!


Na reunião de ontem do Amor Exigente, recebemos um dos belos textos de Carlos Drummond de Andrade que vale a pena compartilhar com vocês.


FELIZ OLHAR NOVO!!!

"O grande barato da vida é olhar para trás e sentir orgulho de sua história.

O grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o AQUI e o AGORA.

Claro que a vida prega peças. É lógico que, por vezes, o pneu fura, chove demais... Mas, pensa só: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?

Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão na ida pro trabalho?
Quero viver bem. O ano que passou foi um ano cheio.
Foi cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões. Normal.
Às vezes a gente espera demais das pessoas. Normal.
A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou. Normal.

O próximo ano vai ser diferente.
Muda o século, o milênio muda, mas o homem é cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança?

O que eu desejo para todos nós é sabedoria!

E que todos saibamos transformar tudo em uma boa experiência! Que todos consigamos perdoar o desconhecido, o mal educado.
Ele passou na sua vida. Não pode ser responsável por um dia ruim...

Entender o amigo que não merece nossa melhor parte.

Se ele decepcionou, passe-o para a categoria três, a dos colegas. Ou mude de classe, transforme-o em conhecido.



Além do mais, a gente, provavelmente, também já decepcionou alguém.

O nosso desejo não se realizou? Beleza, não tava na hora, não deveria ser a melhor coisa pra esse momento (me lembro sempre de um lance que eu adoro: CUIDADO COM SEUS DESEJOS, ELES PODEM SE TORNAR REALIDADE!).


Chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano. Não adianta lutar contra isso.



Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial.

O próximo ano pode ser um ano especial, muito legal, se entendermos nossas fragilidades e egoísmos e dermos a volta nisso. Somos fracos, mas podemos melhorar. Somos egoístas, mas podemos entender o outro.


O próximo ano vai ser o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular...

Ou... Pode ser puro orgulho!

Depende de mim, de você!

Pode ser. E que seja!!!

Feliz olhar novo! E que o ano que se inicia seja do tamanho que você fizer.


Que a virada do ano não seja somente uma data, mas um momento para repensarmos tudo o que fizemos e que desejamos, afinal sonhos e desejos podem se tornar realidade somente se fizermos jus e acreditarmos neles!"



Espero que tenham gostado!
Fiquem com Deus e ótimas próximas 24 horas a cada um!

Hoje completam-se 290 dias limpo!