Sua linda, seja bem vinda. Muito bem vinda...
Minha relação com a primavera teve início na infância. E eu nasci na Primavera!
A mistura de cores, cheiros, flores e perfumes sempre me fascinou. Tudo junto e misturado, em uma harmonia perfeita e serena!
É a estação que vem logo após o inverno e é marcada pelas flores. Aqui no hemisfério sul é chamada de "Primavera Austral" e começa no dia 23 de setembro.
Entretanto, oficialmente, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), esse ano a Primavera começou oficialmente ontem (22/09) às 23h29min, no equinócio de setembro (momento do ano em que o dia e a noite possuem a mesma duração, 12 horas cada).
Linda, cheia de graça...
Linda, cheia de graça...
Ela chegou!
Metaforicamente falando, para quem acompanha meu blog, sabe que por muito tempo tive receios com o Outono e o Inverno. Seus dias frios, secos e chuvosos me assustavam um pouco.
Mas, com o tempo aprendi a importância de cada estação. A Primavera continua sendo a mais esperada por mim, em todos os sentidos (reais ou fictícios), mas hoje compreendo a importância de vivenciar todas as outras fases.
"Se não tivéssemos o inverno, a primavera não seria tão agradável: se não experimentássemos algumas vezes o sabor da adversidade, a prosperidade não seria tão bem vinda."
(Anne Bradstreet)
Sinto-me feliz com a estação que se inicia.
Sinto-me embriagada por seus perfumes.
Sinto-me pronta para colher cada uma das flores que Deus me ensinou a plantar em meu jardim.
A Primavera está aqui, dentro de mim.
Ouso a dizer que ela nunca esteve tão presente, tão colorida.
Será a Primavera mais cheia de serenidade e sabedoria da minha vida.
E hoje cedo, fui surpreendida com uma mensagem dele desejando-me uma "Feliz Primavera".
Não entendi muito bem. Cheguei a pensar que ele havia confundido o dia de meu aniversário, afinal, ele não atentaria para datas como o início de uma estação do ano.
E eu agradeci.
Mas ele não se enganou. Então eu optei por não buscar entender nada e nem ficar pensando nos "porquês".
Quero apenas vivenciar meus momentos e sentir o perfume das flores.
Quero apenas vivenciar meus momentos e sentir o perfume das flores.
"Sejamos como a primavera que renasce cada dia mais bela... Exatamente porque nunca são as mesmas flores."
(Clarice Lispector)
Sim, a Primavera chegou sorrindo para mim, me fazendo renascer, com novas flores. E isso é o que importa!
Novas flores, cores e perfumes...
Desejo que apreciem as flores plantadas no jardim de suas vidas também.
E para finalizar, deixo a vocês um texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", (pág. 366).
PRIMAVERA
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.
Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.
Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.
Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.
Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.
Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.
Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.
Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.
Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.